Sala de estar

Relembrando a primeira mensagem :

mdkfm

O chão da casa de banho ficou todo molhado graças àquelas três pestes. E pelo que via, Enzo também tinha tido o mesmo destino. Eu só conseguia rir-me de tudo aquilo. - Acho que vais precisar de roupas secas. Vou buscá-las. - e antes de ir, apanhei uma toalha e atirei-lha.

Tirei os miúdos da banheira e enrolei cada um numa toalha antes que continuassem a molhar-se todos. Depois tirei as minhas calças e a minha camisa, ficando apenas de boxers. Limpei-me com uma toalha, enrolando-a depois à cintura.

Fui rapidamente ao quarto buscar algo para Enzo vestir. As suas palavras não me saiam da cabeça. Mesmo que fosse apenas por um meio sexual, ele lembrava-se de mim e isso bastava-me.
Congelei à entrada da porta da casa de banho. A minha garganta tornou-se seca e o meu corpo parecia que ia perder o equilíbrio a qualquer momento. Acho que até me esqueci de como se respirava. O meu olhar percorreu todo o seu corpo, talvez de uma maneira demasiado óbvia. Ele estava mais magro, era verdade, mas ainda assim continuava irresistível. Mordi o lábio inferior com força e tentei abstrair-me de qualquer pensamento que estivesse por vir. - Aqui.. aqui.. hum.. tens... - tive que fazer um esforço enorme para tirar os olhos dele.

Ajudei os pequenos a vestirem-se e seguimos até ao andar de baixo. 
Com tudo aquilo tinha-me esquecido completamente das horas. Michel já esperava por mim na sala de estar. - Eu.. ham.. cinco minutos e estou pronta. - claro que demorei muito mais que isso. Vesti um vestido simples mas elegante e calcei uns saltos que em tempos Enzo me dera.

Olhei-me uma última vez ao espelho e saí do quarto. Estava muito atrasada e ainda precisava de falar com os empregados. Parei a meio do corredor quando reconheci a silhueta de Enzo. - Hey.. - cocei o couro cabeludo, um pouco nervosa. - Ham.. a Grazi fez jantar para vocês os quatro, se quiseres.. e hum.. eu sei que já disse isto, mas tens o quarto de hóspedes à tua disposição. 

Olhei rapidamente para o andar de baixo e vi Michel, que andava de um lado para o outro de forma impaciente. Suspirei e abanei a cabeça. - Eu.. acho que posso jantar com ele em outra altura. - e quando dei por mim, já estava no andar de baixo a desculpar-me com ele. É claro que o moreno ficou chateado e talvez irritado, mas não se pronunciou. Em troca, prometi-lhe mais uma vez, um jantar num outro dia.

- Sim, claro. - sorri abertamente e pedi a Grazi que pusesse mais um prato na mesa. Seguimos todos para a sala de jantar e pela primeira vez tivemos um verdadeiro jantar em família. Não houve constrangimentos nem um ambiente pesado. Muito pelo contrário, as crianças estavam ainda mais agitadas agora e não paravam de meter conversa com Enzo. Até o pequeno Francesco teve os seus momentos.

Deixámos os pequenos descansar nas suas camas e seguimos de volta até ao andar de baixo. Tinha sido uma noite surpreendentemente boa. As coisas pareciam estar a correr no caminho que eu tanto esperava. Fui até a um dos armários da sala e puxei uma garrafa de vinho. - Preferes falar aqui ou queres ir para o escritório?

- O escritório é muito formal, não te parece? - E para aquilo que eu tinha em mente, formal não se adequava. - Porque não vamos antes para o jardim? Está uma noite agradável.

Acenei com a cabeça e antes de seguir para o jardim, fui rapidamente à cozinha buscar dois copos. Eu não fazia ideia do que Enzo tinha para falar, mas confesso que estava a ficar cada vez mais curiosa. Sentei-me na relva. Tinha que admitir que estava uma noite maravilhosa.

Não havia sinal de Enzo naquela casa, de facto, nem mesmo das crianças. Francesco ainda dormia, Sienna tinha convencido Oscar a levá-la às compras e Vincenzo andava escondido por aí. Grazie ainda não voltara da sua consulta no médico, então podia dizer que tinha aquela mansão toda para mim. Era meio aborrecido mas ao mesmo tempo relaxante. Tomei um comprimido para a dor de cabeça e abri um pacote de batatas fritas. Há minutos atrás tinha recebido uma ligação de Michel. Ele passaria por ali mais tarde, tinha assuntos a tratar. Parecia que ele andava de olho num quadro qualquer.

Os dias estavam a ser piores do que imaginava. Havia um ambiente estranho que rondava a casa, já para não falar que Enzo não aparecera mais ali. Por momentos ainda tivera esperanças que ele voltasse atrás na sua ideia idiota de vingança. As crianças ainda perguntavam imenso por ele e eu não tinha outra hipótese senão mentir e inventar desculpas.
Depois de trancar o cofre, fui-me sentar no sofá. A minha cabeça latejava, estava demasiado cansada. O meu telemóvel vibrou, era Michel. Estas últimas semanas tinha conseguido fugir de qualquer investida sua. Era um sufoco atrás de sufoco.

Não conseguia impedir as crianças de ver Enzo. Eu, mais do que ninguém, sabia o que era querer estar perto deles e não puder, afinal, na época em que os gémeos nasceram, Enzo tinha-me impedido de manter contacto com eles. Por isso, quando Grazi apareceu, apenas lhe dei sinal que o deixasse à vontade. Eu manter-me-ia no escritório.

Era impossível não ouvir os gritos de alegria das crianças. Mais impossível ainda, era estar trancada no escritório. Bella tinha dado notícias, enviara-me um e-mail com imensas fotos da sua lua-de-mel e do pequeno Geovane. Ainda não lhe tinha contado sobre Enzo, achava melhor deixá-la às cegas, por mais um tempo. Depois de mais algum tempo, levantei-me da cadeira e segui até ao andar de baixo.

Estava num momento de pausa - quem diria que aqueles três juntos a brincar se tornariam numas pestes? - em que simplesmente me recostara no sofá e observava os miúdos a brincar. De repente pressenti uma nova pessoa na sala. Olhando para o lado dei conta da presença de Celine. O meu sangue começou a aquecer, reação essa que eu preferia que não acontecesse mas.. - Celine - Não estava surpreso por ela ter decidido aparecer.

A sala estava um autêntico caos. Algumas coisas estavam fora dos seus lugares e o chão era composto por apenas bonecos. Por momentos vi-me numa tarefa difícil de não escorregar em algum. - Enzo. - sentei no canto do sofá e olhei para os pequenos. Não havia muito do que pudesses conversar. Tirei uma pequena foto do bolso, foto essa que Bella me tinha mandado por mail e estiquei-lha. - Pensei que quisesses ver.

Apesar de ela se ter sentado a um canto do sofá longe de mim, a fotografia que tirou e me estendeu fez com que eu me aproximasse dela. Peguei nela e fiquei surpreendido ao ver uma imagem da minha irmã com um pequeno bebé ao colo. Algo me fez engolir a seco, senti uma palpitada no meu coração. Bella. Era ridiculo, estava cheio de saudades dela... e ao mesmo tempo começava a pensar em quem fora o cabrão que metera as mãos em cima da minha menina. Estaria ela casada para formar agora a sua própria família? Sempre fora muito protector para com ela.  - Como está ela?

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