Quarto

- Está muito bom!
Sorri abertamente. Mas já seria de esperar.
Deliciei com aquilo tudo.

Eu ficava feliz por a alimentar. Era um desejo básico quase idiota mas... - Há algo que não te disse ontem.

Eu estava cheia, mas ainda tive espaço para acabar com o sumo. Olhei para Enzo. A noite de ontem, tinha sido especial. Pelo menos, para mim. Mas não me queria iludir e tinha consciência, que teria que esquecer aquilo. - Hum? O que foi?

Aproximei-me dela, ficando quase frente a frente na cama. Olhei-a profundamente.
- Não te disse que também gosto de ti.

Corei intensamente com as suas palavras. Se tudo fosse diferente, teria certamente reagido de outra forma. - Hum.. bom saber. - Sorri por uns momentos e agarrei na sua mão. - Sabes, às vezes as pessoas escolhem caminhos que não são o delas. Simplesmente porque sim. Os gémeos vão nascer, eu vou-me embora e tu.. tu vais ficar a tomar conta deles. Cada um com a sua vida.

Acariciei a sua face, colocando a minha mão a abarcar o seu maxilar. Abanei a cabeça. Não queria que ela se fosse embora, nem que os gémeos não a tivessem como mãe. - e se não fosse assim?

- Mas vai ser assim. - afastei a minha cara das suas mãos. - Acredita em mim, quando digo que é o melhor assim. Nós não temos nada a ver um com o outro. Somos completamente diferentes, as nossas vidas e rotinas são diferentes.

Não escondi o quanto aquilo que me deixava irritada.
- Nós podíamos fazer as coisas funcionarem. Ou não queres que isso aconteça?

Nunca me imaginaria a ter aquela conversa com ele. Abanei a cabeça. - Quero, claro que quero. - murmurei. Mas as coisas não era assim tão simples. Nunca nada era simples. - Mas eu não posso ficar.

- E porquê que não?
Perguntei abruptamente, levantando-me.

Obviamente que não lhe ia dizer as verdadeiras razões.
Encolhi os ombros. - Porque não. Não vai dar certo.

- Porque não queres.
Só podia ser isso. Uma pessoa com poder, como eu, podia fazer tudo. Eu queria lá saber do resto, desde que ficasse com ela. Parecia que essa vontade não era recíproca. - Como queiras. - saí do quarto.

Comecei a chorar. Enzo estava a ser tão idiota, ao pensar e agir assim. Nós nunca poderíamos ficar juntos. E mesmo que podessemos, ele iria passar a odiar-me, quando descobrisse que eu andava a ajudar o meu irmão a fazer uns trabalhinhos sujos. Deitei-me na cama e fechei os olhos.

Só voltei para o quarto horas depois. Tinha ido espairecer e estava agora mais calmo. Ela podia não querer nada comigo depois, por isso só tinha de aproveitar enquanto ainda a tinha agora.

Era melhor assim. Talvez daqui para a frente criassemos uma distância e que esquecessemos de vez, aquele assunto. Limpei as minhas lágrimas e meti-me por de baixo dos lençóis.

- Não queria perturbar-te.
Disse, aproximando-me da cama com cautela.

- Deixa-me em paz Enzo. - não o queria longe de mim, mas ao mesmo tempo, não tinha gostado da reacção que ele tivera. Fora demasiado violenta. Mesmo que ele tivesse todo o direito em sê-lo.

- Não deixo - sentei-me na cama - não é assim que quero passar as nossas férias. Desculpa-me.

Comecei a chorar novamente e abracei-me a ele com força. - Desculpa-me a mim. Eu não posso ficar Enzo, eu quero, não posso. Não espero que compreendas.

- E tens razão, não compreendo. 
Confessei. Odiava quando não compreendia as coisas.
- Vamos aproveitar enquanto dura.

Olhei-o profundamente nos olhos, com certezas do que iria pedir-lhe. - Não tenho direito nenhum, eu sei que assinei aquele contrato mas.. - engoli em seco. - Aconteça o que acontecer, por favor, não me excluas da vida deles.

Engoli a seco. - Eu quero-te, quero que sejas mãe deles... pondera ficar comigo, por favor. O que quer que achaas que não o deixa, eu resolvo.

A sua proposta era tão tentadora. Mordi o lábio. - Não Enzo, não resolves..
Só eu podia resolver aquilo e já era tão tarde.

- diz-me o que é e vais ver que resolvo, ontem que tenha de... - fazer qualquer coisa. Eu faria qualquer coisa para a ter.

Tateei a sua cara e sorri. Eu não lhe ia dizer nada. Por muito que gostasse de Enzo, por muito que quisesse ficar com eles os três, Tom era meu irmão. Tinha-lhe prometido. - Não insistas. - murmurei.