Quarto

Não havia nada melhor que eu pudesse fazer, se não cuidar dos nossos filhos. Tinha-se passado uma semana e a saudade era muita. Nós mal mantínhamos contacto, com o risco de sermos interceptados.

Eu sentia que algo estava errado. Sentia um aperto enorme no coração e não conseguia sossegar até ouvir a voz de Enzo e saber que ele estava bem. Ninguém naquela casa era capaz de me dizer o que quer que fosse e sempre que tentava chegar perto do telefone, um dos seguranças sobrepunha-se.

- Morto.. - a minha visão ficou turva ao ouvir aquelas palavras. Senti o meu peito apertar-se com tanta força, que por momentos fiquei sem ar. Grazi abraçou-me de imediato e fez sinal para que Óscar levasse as crianças para os quartos. Agarrei-me àquela velha italiana, como uma criança pequena agarra a sua mãe. - Não pode ser Grazi, não pode. Diz-me que é mentira. Nós íamos casar, íamos ser felizes. Grazi! - gritei.
Estava no quarto, sozinha. A cama parecia tão grande, agora sem Enzo por perto. O choro de Francesco fez-me despertar dos meus pensamentos. Nem um mês de vida o pequeno tinha e já era órfão de pai. Não consegui conter as lágrimas. O que seriam dos meus filhos sem Enzo? Eu não sabia se era forte o suficiente para dar-lhes todo o amor e cuidado necessário. Tinha tanto medo por eles e por mim.
Tomei um banho frio e vesti qualquer coisa. Um tal Michel tinha algo para falar comigo. Tentei pôr um ar mais saudável na cara, mas a perda do meu marido ainda era algo recente. Era uma ferida que nunca iria cicatrizar. No fundo ainda tinha esperanças que tudo aquilo fosse um pesadelo e que a qualquer momento podia acordar e Enzo estaria ali.


o que é que tem ao certo na pasta?

- Sydney. - murmurei. Olhei para o conteúdo da pasta. Tudo o que era necessário estava ali, identidades falsas, passaportes, ainda havia uma pequena carta, com uma letra que eu reconhecia ser de Enzo. As lágrimas voltaram a assombrar os meus olhos. Mas aquela não era altura para choros. Eu tinha que proteger os meus filhos.
Dei ordem para que os empregados arrumassem as coisas e em poucas horas já estávamos dentro do avião.