Quarto da Cel

O motorista dela guiava o carro. Não estava a falar, não que não me apetecesse, mas antes porque estava demasiado cansado para o fazer. O carro parou e saí porque achei que ia encontrar um restaurante, mas estava enganado - Nem penses - Disse para Celine.

A hipnose era a coisa mais estúpida de que já ouvira falar. Duvidava que me fizesse trazer de volta as memórias e que com isso fizesse parar as minhas dores de cabeça. Mas, ao ver Celine cismada com a ideia e demasiado cansado para a contrariar, aceitei - Isto vai falhar, Celine. Eu já não tenho remédio - Avisei para que ele não tivesse muitas expectativas.

Que ela não estivesse lá era melhor. Seria um golpe a menos quando percebesse que aquela cena toda da hipnose não funcionava. Depois de ela sair, o médico encaminhou-me para uma sala diferente. Toda ela era branca fora um cadeirão preto. Mandou-me sentar ali e assim o fiz. O procedimento começou.

No inicio achei tudo aquilo uma  palhaçada. O hipnotizador falava comigo numa voz monocórdica que me irritava solenemente. Depois veio aquele cheiro a ervas queimadas. Quando dei por mim já estava semi consciente apenas. Não passei daí, como era suposto. Estive ali o que pareceram horas, não sei. O hipnotizador fazia-me perguntas, incentivava-me a procurar por coisas. Eu tentava e só via preto e à medida que o fazia a minha dor de cabeça aumentava. Até que recordei algo. Era mais uma imagem do que qualquer outra coisa. - Eu... Celine - Murmurei revendo o seu rosto na minha mente, ela no iate. E eram aquilo golfinhos? Mas tão depressa como chegou, a imagem desapareceu. Acordei da hipnose. A dor foi tão enorme, tão. Caí no chão e agarrei-me à minha cabeça. Era insuportável. Fez-me gritar. Nem senti os enfermeiros agarrarem em mim e levarem-me dali para fora. Estava tudo negro para mim.

Eu estava tonto. Eles tinham-me dado uns comprimidos que atenuaram a dor. Mas os efeitos secundários eram uma merda, a minha visão estava turva e sentia-me maldisposto. Por isso acabei por cair num sono leve que foi interrompido quando percebi que alguém se aproximou.  Fiz um esforço para parecer normal diante de Celine - Hey - Respirei fundo calmamente - Tinhas razão. Acho que resultou... - Olhei para ela, que ia ficando nítida à medida que ia despertando - Acho  que me recordei de algo.

Ouvira a sua voz era igualmente um bálsamo e uma maldição. Ainda me doía a cabeça, mais do que devia, por isso qualquer ruído era um incómodo. Mas não me importei. - Alguma vez te levei a ver as ilhas de Santa Barbara? - Comecei por dizer, explicando-lhe de seguida do que vira - Recordei-me de algo. Parecia o meu iate pessoal e estávamos em pleno mar, perto das ilhas. Tu estavas na beira e olhavas para a água com um sorriso radiante. Acho que vi golfinhos? Estavas grávida, também. - Fora apenas isto que vira, mas melhor do que ver fora a sensação que me causara no peito. Conforto, amor, felicidade. Coisas que não tinha há muito, muito tempo.

Sorri quando ela confirmo que aquilo era uma memória real. Um laivo de esperança apanhou-me desprevenido. - Voltamos agora - Eu não ia ficar nem mais uma hora naquele sitio. Levante-me, tendo cuidado para estar sempre apoiado na cama. - E volto amanhã para repetir a hipnose.

- É boa ideia sim - Reafirmei. Durante o primeiro ano que se seguira a seguir ao coma eu passara os dias parado numa cama, fechado num quarto como este. Já não aguentava passar tanto tempo dentro de um. - Eu sinto-me bem. Estou só um pouco abalado. Eu quero fazer isto. Eu quero lembrar-me. - Disse-o olhando para ela. 

Era mais um outro ia desperdiçado, quase disse. Mas na realidade não fora pois conseguira voltar a recordar-me. até sabia bem estar a ser "mimado" por Celine. - Obrigado - Disse-lhe quando chegamos a casa. Desloquei-me até à cozinha. Não tinha fome mas não queria fazer a desfeita a nenhuma das duas.

Apesar de estar cansado, não me ia fartar de estar a passar tempo com a minha princesa pequena. Depois de lh ler a história, traduzi a mesma para italiana. A pequena delirou. Já sabia falar algumas coisas na minha lingua materna.