Locais Aleatórios

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Tinham-se passado quase três anos desde a morte de Enzo. Três anos que vivia em Sydney, escondida e sem maneira de voltar a LA. Ainda mantinha algum contacto com Tom. Aliás, tirando os homens fieis a Enzo, o meu irmão tinha-se mostrado disposto a proteger os sobrinhos, mesmo que à distância. E foi por isso que pude voltar a usar o meu nome.
Grazi tinha acabado de vestir os gémeos. Francesco estava no meu colo, entretido a comer um docinho. Tinha planeado uma saída a quatro. Somente eu e os meus filhos. Claro que trouxera alguns seguranças atrás, não podia arriscar as suas vidas.
Depois de comermos um gelado, passearmos pelas ruas, seguimos até uma livraria. Não me demorei muito, mas isso foi o suficiente para perder de vista Sienna. Comecei a entrar em pânico. Tornara-me bastante protectora com os nossos filhos depois de Enzo falecer. - Seus idiotas, era suposto vocês estarem atentos! - quase que gritei. Apressei-me a sair da livraria e olhei para todos os lados. - Sienna! Onde estás tu?! - então ouvi o seu riso e fui encontrá-la no jardim ao lado, com um homem misterioso.

- Sienna! - voltei a gritar. Corri o mais rápido que conseguia até ela. Quem era aquele homem? O que fazia ali com a minha pequena? Será que alguém nos tinha descoberto? Assim que me aproximei, Sienna olhou para mim com um grande sorriso. Puxei-a contra o meu corpo e abracei-a com força. - Quantas vezes eu já te disse para não largares a mão do Vin?
- O mano é chato! - Vincenzo bufou. Só depois de me certificar que ela estava bem, olhei para aquele homem, mantendo uma certa distância. Eu mal conseguia ver a sua cara e isso não me inspirava confiança.

Finalmente alguém veio em busca da criança. Era a minha chance para seguir caminho como se nada fosse, mas ao olhar discretamente para a mãe que veio a correr, fui assaltado por uma imagem, uma recordação. De vez em quando isto acontecia-me de la maneira que me provocava uma tontura. Era ela, a mulher dos meus sonhos. Como podia? - Ela está bem - Disse, com a minha voz ligeiramente rouca, num esforço para não demonstrar o meu sotaque. - Mas não devia deixá-la sem segurança. Ia sendo derrubada por um miudo de skate. 

- Oh.. - foi tudo o que eu consegui dizer. Então era isso. Ele não estava ali para raptar os meus bebés, nem matar a minha família. Suspirei, um pouco mais aliviada. - Obrigado por ter ajudado a minha pequena. - Entretanto os dois seguranças que estavam comigo, acabaram por se aproximar. - Esta aqui é uma peste, difícil de controlar! - suavizei a minha expressão e sorri.

- Mamã.. mamã.. mamã!! - desta vez foi Vincenzo que chamou a minha atenção. O mais velho puxava-me pela mão, estava sonolento e aborrecido, podia perceber isso. Fiz sinal ao seguranças e cada um ficou com um gémeo. Olhei uma última vez para o homem à minha frente. - Mais uma vez, obrigado. - dei meia volta e comecei a caminhar para fora dali.

Permaneci onde estava, depois andei. Não a queria perder de vista. Sabia como manter um low-profile. Esqueci-me para onde ia, já nem queria saber. Ia segui-la e descobrir mais sobre a mulher que atormentava os meus sonhos de vem em quando.

As máscaras serviam para proteger a identidade de cada comprador. Saí do carro, assim que um dos seguranças me abriu a porta. As pessoas ao meu redor estavam deslumbrantes, como se tivessem numa noite de oscars. Haviam alguns quadros expostos pelos corredores, outras obras de artes, também muito conhecidas. Pensando bem, até podia ser uma noite divertida. Peguei numa taça de champanhe.

Fui alvo de todos os tipos de olhares. Isso incomodava-me mas nem por um segundo o demonstrei. Uma das organizadoras apresentou-me a um pequeno grupo de senhoras que pela aparência, podia ver que eram mulheres de pessoas importantes. Se não fossem as máscaras, talvez as reconhecesse. Afastei qualquer tipo de aproximação por parte do sexo masculino. Não dei chances para tentativas de seduções. Não precisava disso nem queria. Depois de uma curta conversa com aquelas cinco, inventei uma desculpa qualquer e segui por um corredor sozinha. Fiquei a contemplar um quadro.

Fiquei surpreendida pela sua intervenção. Nem sequer reparara na sua presença. - Sim. - Não queria dar espaço para conversas, ainda por cima com um homem. Mas não resisti e continuei. - Pena que seja uma falsificação e muito mal feita por sinal. - eu contemplara os traços do autor e não a sua beleza em si. - Se o falsificador conseguir expressar a mensagem por trás do quadro, as suas emoções escondidas, então a obra é um sucesso, se não, é só mais um terror para a visão. - Fora isso que em tempos o meu pai me ensinara. Aquele quadro era um fracasso absoluto. - Já para não falar na egocentricidade comum. - então virei-me, de forma a poder encará-lo e fiquei perdida no seu olhar. Era um verde musgo que se misturava com um azul intenso que eu pensava ser a cor original dos seus olhos. Ele estava sem dúvida de lentes de contacto. O meu corpo tremeu. - To.. To..dos.. arranjam maneira de esconder a sua assinatura na pintura. Não veja isso como burrice e sim como um simples acto de puro orgulho..

Eu reconhecia aquela voz. Era o homem misterioso do outro dia. O que impedira Sienna de ser magoada por um idiota de skate. Fiquei um pouco incomodada com a sua presença. - Desde os meus cinco anos. - bebi o que sobrava do champanhe e suspirei. Aquilo era a minha deixa para me afastar dele.

Eu começava a sentir-me levemente ameaçada com a sua pequena invasão de espaço. - Está a brincar comigo, não está? Um Kandinsky? Não tem algo mais difícil? - sorri cinicamente. Afastei-me dele, contornando-o. - Sobre trabalho amador posso-lhe aconselhar a dar uma pequena vista de olhos no Braunlich exposto e reconhecido como autêntico, em San Francisco. Talvez se surpreenda.

Poderia ser ela a falsificadora de que eu procurava? Estava a ficar convicto de que sim. A sua arrogância indicava-me que não sairia desiludido com o seu trabalho - Então é obra sua. Diga-me, estaria disponível para trabalhar no Kandinsky? Ficaria surpreendida com os valores. 

- Claro, de quem mais seria? - pela primeira vez naquela noite sorri verdadeiramente. A sua proposta era interessante, mas eu não era pessoa de aceitar qualquer coisa assim. - Talvez. Mas, aqui não é local para tratar destes assuntos, não é verdade?! Importa-se de esperar até amanhã ou assim?

Algo me avisava que tinha de ter cuidado com esta mulher. Ela era perspicaz. Tirei um pequeno cartão. Não tinha grandes informações. Num estilo bastante formal, apenas dizia "Alexander." e o meu número. Passei-lho - Vou ficar à espera da sua chamada. Seria péssimo ter de encontrar outra pessoa para fazer o trabalho - E dito isto, desimpedi o caminho e fui-me embora. Aquele leilão dera o que tinha a dar.

- Não se preocupe, entrarei em contacto o mais rápido possível. - Olhei muito brevemente para o cartão e guardei-o rapidamente. Mais tarde teria todo o cuidado em mandar Michel procurar informações sobre esse tal Alexander. Depois daquilo não me mantive muito mais tempo no leilão.