Locais Aleatórios

Uma coisa era irmos às compras, outro era eu segui-la até uma loja de lingerie. Ela só devia estar a gozar com a minha cara e eu sentia-me o mais idiota que me sentira na vida.

Eu tinha duas intenções para ali estarmos. Uma era o meu pai e outra era Enzo. Precisava de convencê-lo a não partir logo para LA, precisava dos meus filhos junto de mim.
Assim que entrámos na loja, fomos logo recebidos por uma das empregadas. Dispensei-a. Naquele momento só precisava da opinião daquele italiano. Percorremos os corredores, sempre atenta às imensas peças. - Achas que ele vai gostar desta? - mostrei-lhe uma em tons vermelho escuro.

Eu ai começar a ficar vermelho de raiva.
- Ele quem? 
A ideia de algum homem a ver de lingerie punha-me fora de mim.

- O meu pai, Anthony. - Bem, talvez eu estivesse a escolher aquela lingerie a pensar em Enzo, mas seria sem dúvida, usada no meu plano contra o meu pai.

- O teu pai, Celine? - Perguntei, controlando a minha voz  e a minha fúria. - Porque raios está a pensar no teu pai a ver isto? - Eu vou matá-lo.

- Porque ele gosta de me ver de lingerie.. - não lhe queria dizer o porquê daquilo. Talvez fosse uma loucura, talvez não. Mas eu já me sentia demasiado constrangida por ter que lhe mostrar as minhas marcas. Puxei-o pelo seu casaco e levei-nos até aos provadores.

Cerrei os punhos. Não ia ficar calado. Parei-a antes de entrar no provador. 
- Ele não tem porque gostar de te ver de lingerie, caraças. Eu não te levo de volta para esse filho da puta,e ele não vai voltar a por as mãos em ti

- Mas eu tenho que voltar Enzo. - suspirei. - Eu sou obrigada a isso. - E era terrível não ter opção de escolha. Entrei no provador antes de ele voltar a pronunciar-se, tirei a minha roupa e vesti a lingerie que tinha escolhido. - Então, fica-me bem?!

- Não és obrigada a coisa nenhuma. Estás livre,  tens os teus filhos. Se voltas, é porque queres voltar - Eu estava muito indignado - Nem te vou responder. Vou-me embora daqui - E saí da loja.

- Enzo, não vás! - vesti-me rapidamente e fui atrás dele. Foi difícil alcançá-lo de saltos altos. Apanhei o seu braço, apertando-o contra o meu corpo. - Não vás.. não é nada disso.. Porque pensas sempre mal de mim?

Ela alcançou-me e eu olhei-a - Pelo contrário, és tu que pensas sempre mal de mim. Ouve, não sei o que queres fazer mas o que quer que seja não precisas, percebes? Caraças, eu faço qualquer coisa se não voltares para Roma. E tu arrastas-me para aqui e esfregas-me na cara a lingerie que vai comprar ara o teu pai ver? Queres que penso o quê? Estás a deixar-me louco.

Eu tinha razões para pensar mal dele. Ele deixara-me apodrecer naquela casa, com aquele monstro. E ainda se enrolara com Giuliana. Podia perdoá-lo mas ainda estava muito magoada. - Qualquer coisa? - olhei-o nos olhos - Eu tenho que fazer isto, ainda não percebeste?

- Não não percebi. Preciso de entender porquê.
Disse muito seriamente.

- Ele tem.. hum.. - Encolhi os ombros. Não queria contar-lhe, era demasiado vergonhoso. - Ele tem fotos, vídeos guardados algures.. percebes porque é que agora não me posso ir embora? Não quero que os gémeos cresçam com aquilo às costas. 

Cerrei os olhos. A minha fúria por António só aumentava.
- Deixa-me tratar disso - Foi tudo o que disse. - Apanha o avião, volta para Los Angeles com os miúdos e deixa-me tratar disso - eu ainda lhe estava a pedir, só para não exigir.

- Não Enzo, não. - e eu estava decidida e nada nem ninguém, me conseguiria demover naquilo. - Ele não pode sequer saber que te contei. Deixa-me fazer as coisas à minha maneira.

- Fazeres as coisas à tua maneira? E se ele te volta a tocar?! Vais voltar para o covil do lobo - eu não a entendia.

Eu sabia bem as consequências que tinha, mas estava certa que iria resultar. Suspirei. - Não preciso de ouvir sermões.. vou fazer isto quer queiras, quer não.

- Celine... - Peguei-lhe na mão - E se correr mal? Eu mato-o, Celine.

- Não vai correr mal. - garanti-lhe. - Confia em mim, por favor. - murmurei. Eu tinha tudo planeado. Ia ter todas aquelas coisas nas mãos, num abrir e fechar de olhos. Afinal, não fora apenas eu, vítima de Anthony. Suspirei.

Eu não sabia se podia confiar nela. Ela não confiava em mim. 
- Não é em ti que não confio.

Ignorei as suas palavras. Eu tinha chegado a comprar a lingerie, não valia a pena continuarmos ali parados, no meio da rua. - Eu vou precisar da tua arma de reserva. - falei enquanto o puxava para dentro de um café.

- Ainda para mais - Bufei ironicamente. Ao menos ir armada. Se ela nao matasse o filho da puta, mataria eu. Entrámos e sentámos-nos. Pedi uma bebida alcoólica.

Eu pedi uma taça de vinho. Não queria vingança, apenas aqueles vídeos e imagens longes das mãos do meu pai. Queria estar livre para seguir com a minha vida em frente. - Não me chegaste a responder.. a lingerie..