California Hospital Medical Center

Fiquei junto de Tyler até os médicos chegarem e mesmo depois disso, não o larguei nem um segundo. Não estava de todo dentro dos meus planos ir a casa dele para tentar a minha sorte e encontrá-lo quase morto no chão. Desci da ambulância assim que chegámos ao hospital e só não fui ao lado de Tyler até ao bloco porque os médicos me pararam à entrada. Soltei um suspiro, não barafustando e sentei-me na sala de espera, limitando-me a fazer isso mesmo, esperar.

Depois de estabilizado, os médicos marcaram o bloco operatório o mais rápido possível, mais tarde quando ele fosse operado tinham que chamar a polícia para saber o que tinha acontecido. Uma médica que tinha tratado de Tyler foi à sala de espera vendo a rapariga que era a única que ali estava - Ele está estável, pode até acordar agora enquanto espera para ser operado mas nós vamos dar-lhe sedativos para o manter a dormir, as dores podem ser demasiadas para ela aguentar. A senhora sabe o que é que se passou? Nós vamos ter que chamar a polícia.

Estava a bater impacientemente no chão, prestes a arrancar cabelos, quando senti uma presença junto de mim. Subi o olhar, vendo que era uma médica e levantei-me logo, para a ouvir falar.
- Porque é que têm de esperar? - perguntei aflita.- ele está mal, precisa de ser operado.- de aflito, o meu tom passou para resmungão. Endireitei-me assim que falou em polícia e comecei logo a imaginar o sermão que ia ouvir.- não, quando eu cheguei ele já estava assim.- informei.- ]mas têm mesmo de chamar a polícia? - perguntei.- é mesmo preciso? - vais morrer Stella.

-Porque ele está estavel pelo menos durante mais uma hora e agora não há blocos operatórios disponíveis, visto que estamos cheios - disse a médica ouvindo depois a explicação de Stella - Mas é alguma coisa ao rapaz? - perguntou - sabe o nome, a morada? Não encontramos nenhum documento com ele - disse tentando recolher dados sobre o rapaz para dar à polícia - como é que o encontrou?

- Eu encontrei-o assim.- disse apenas. O Tyler ia mtar-me, agora é que eu já não ia conseguir ter nada com ele, e tudo porque o tinha trazido para o hospital, mas o que é que ele queria que eu fizesse? Não podia deixar que ele morresse. Pensa Stella, pensa. Olhei para a médica, que também me olhava e depois levei uma mão à barriga, deixando-me desequilibrar de propósito, tendo de me agarrar à cadeira.- eu..acho que não me estou a sentir bem.- murmurei, fechando os olhos.

A médica assentiu ficando à espera de mais informações e quando Stella se começou a sentir mal debruçou-se até ela - o que é que está a sentir? - perguntou ouvindo o bip a tocar - eu tenho que ir, é sobre o Tyler, está num local rodeado de médicos, o que quer que seja, peça ajuda - disse correndo até à sala onde estava Tyler.

Abri a boca para lhe dizer uma desculpa qualquer, de que estava a sentir a minha cabeça às voltas, ou algo do género, mas ouviu-se um bip que interrompeu a minha encenação. Continuei debruçada, apesar de me apetecer perguntar-lhe o que se passava, mas apenas disse que sim com a cabeça. Fiquei a olhá-la, esperando que desaparecesse e depois, sentei-me de novo no banco, respirando fundo. Desta já me tinha safado.

Os médicos não conseguiam deixar Tyler estável durante muito mais tempo por isso, mal houve uma vaga no bloco operatório eles levaram-no logo, informando a rapariga loira que estava com ele. Ainda não conheciam o rapaz, e precisavam dos dados dele, mas não o iam deixar a morrer à frente deles. A operação correu bem, o que estava danificado foi recuperado e ele ia voltar a ficar bem. Quanto aos pés, talvez precisasse de alguma fisioterapia antes de andar com os pés assentes no chão.

O tempo parecia passar ainda mais devagar do que o normal. Depois de os médicos me avisarem de que iam levá-lo para o bloco operatório, eu não consegui parar de andar de um lado para o outro. Só ia descansar quando me dissessem que ele já estava bem, apesar de saber que quem não ia ficar bem era eu. Levantei-me da cadeira assim que vi a médica de antes vir na minha direcção e tentei não me mostrar muito bem, supostamente ainda estava mal disposta.
- Já acabou? - perguntei.

A médica ia voltar tentar descobrir o que tinha acontecido mas quando viu a cara da rapariga desistiu.
-Correu tudo bem, ele está no quarto de recuperação a ser tratado e ligado às máquinas, mas pode ir vê-lo daqui a pouco, se quiser - disse apontando para o quarto onde Tyler estava - nós vamos chamar a polícia agora para estarem cá quando ele acordar.

Fiquei parada enquanto a médica falava e só voltei a respirar quando ela disse que tudo tinha corrido bem. Pelo menos isso. Voltei a suster a respiração quando falou na polícia e apenas abanei a cabeça de forma afirmativa, sem dizer mais nada, começando a andar até ao quarto para onde ela tinha apontado. Merda, isto ia dar merda.

Estava tão dormente que nem me conseguia sentir a mim próprio, apenas sabia que existia porque estava a pensar. Ah! Agora sabia de onde é que vinha aquela frase: penso, logo existo. O homem devia ter passado pela mesma situação que eu.
Aos poucos comecei a sentir-me até conseguir abrir os olhos e ver tudo muito enevoado, mas com o tempo começou a focar-se.Voltei a fechar os olhos por causa da luz que vinha da janela e ao lembrando-me do que se tinha passado decidi que estava na hora de despertar. Como é que eu ainda estava vivo? Olhei em volta inspeccionando o quarto branco e cheio de máquinas, arregalei ligeiramente os olhos e apesar de ainda mal sentir o corpo tentei sair dali.

Abri a porta do quarto com cuidado, espreitando para lá para dentro, mas ele ainda estava adormecido. Soltei um suspiro angustiado, entrando e aproximei-me dele, passando as pontinhas dos dedos pelo seu cabelo escuro. Ele não podia ficar muito chateado pois não? Afinal, eu tinha-o salvo. Virei-me, puxando a cadeira que ali estava para perto da cama e quando me estava a sentar ouvi o colchão da cama chiar. Abri ligeiramente os olhos, olhando para lá e foi então que o vi já acordado e a tentar sair.
- Pára quieto.- mandei, voltando a levantar-me para o segurar pelos ombros.- acabaste de ser operado, queres voltar já para lá?

Senti algo que me empurrava para ficar deitado e olhei para a figura loira que estava à minha frente, só percebendo depois de algumas pestanejadelas que era a rapariga que tinha conhecido numa das reuniões.
-O que é que estás a fazer? - perguntei - não posso estar aqui - murmurei ainda com a voz rouca. Não me conseguia lembrar de nada a partir da altura em que tinha levado o tiro - o que é que eu estou aqui a fazer?

Fiquei a olhar para Tyler enquanto esperava que recuperasse os sentidos e quando isso pareceu acontecer, eu respirei mais aliviada. Pelo menos não tinha começado a gritar comigo, mas algo me dizia que isso ia acontecer a seguir.
- Eu sei que não podes estar aqui.- disse baixo.- mas tu estavas ferido, eu não sabia o que fazer, tu precisavas de ajuda.- prendi o meu lábio inferior nos meus dentes.

Levei uma mão aos meus olhos tentando acordar de vez e levantei a cabeça para olhar para o meu corpo, mal sentia os pés, ia ser dificil ir a andar.
-Eu preciso de sair daqui - disse depois de a ouvir, por mais que estivesse irritado com a sua escolha, ela era nova e reagia por impulsos, não racionalmente. - Eles sabem alguma coisa? - perguntei - Disseste o meu nome? - perguntei, eu sabia que não tinha documentos comigos, nem o telemóvel por isso eles não podiam saber nada a não ser que ela tenha dito.

Fiquei a olhar para ele, preparando-me para o agarrar caso ele se lembrasse de se levantar outra vez e neguei com a cabeça à sua pergunta.
- Eu não disse nada, eu juro.- disse.- eu até fingi que me sentia mal para não ter de falar.- fiz uma careta.- mas a médica quer chamar a polícia.- disse já mais baixo, desviando o olhar até aos meus pés, ele ia chatear-se.

Tentei que o meu cerebro começasse a pensar, tinha que sair daqui antes que polícia chegasse e me identificasse, eu tinha os meus rastos protegidos, mas eles podiam encontrar uma ponta solta.
-O que é normal, tens começar a pensar antes de fazer as coisas, eu tenho o número do meu médico por todo o lado de minha casa - disse -Já sei - disse fechando os olhos - vais vestir-te de enfermeira e se alguém perguntar eu só quero apanhar ar - abri os olhos - meteste-me aqui agora tiras-me daqui. - olhei-a - rápido, e não digas que acordei.

- E tu achas que eu sabia isso? - perguntei num tom de resmungo.- não estou propriamente em tua casa todos os dias.- acabei mesmo por revirar os olhos. Não era que eu me importasse, mas ele não precisava de saber essa parte. Fiquei calada enquanto ouvia o seu plano para o conseguir tirar dali e assenti, ele tinha razão, tinha sido eu a pô-lo ali, tinha de ser eu a tirá-lo.- está bem.- disse, indo até à porta.- eu já volto.

Fechei os olhos para fingir que ainda estava adormecido, lembrando-me da minha mãe.
-Viste a minha mãe? - perguntei abrindo os olhos antes que ela se fosse embora. Já não me lembrava do que eles tinham dito ao certo, só esperava que estivesse tudo bem.

Estava prestes a sair do quarto quando Tyler falou. Estaquei junto da porta e olhei para ele por cima do ombro, negando com a cabeça.
- Não, quando cheguei a tua casa só vi umas pessoas saírem de dentro da tua casa do jardim, mais nada.- encolhi os ombros.- já posso ir?

Engoli em seco ajeitando os lençóis que estava em cima de mim e acenei afirmativamente.
-Vai - murmurei fechando os olhos. Tentei não pensar muito na minha mãe por causa do meu ritmo cardiaco, para fingir ainda estar em sono cerrado se eles me viesse ver.

Assim que ele me deu permissão para o fazer, saí finalmente do seu quarto. Eu não fazia a mínima ideia de onde é que ficava a sala das enfermeiras, mas ia encontrá-la, de uma forma ou de outra. Percorri todos os corredores, olhando para todas as placas que estavam afixadas nas portas e parei na que dizia ''stuff''. Abri a porta, entrando e fui logo vasculhar o armário.
- Encontrei! - soltei um gritinho mal encontrei uma bata de enfermeira livre, mas logo tapei a boca, não podia fazer barulho. Tratei de me vestir, escondendo a minha roupa a um canto e apanhei o cabelo, para ter um ar mais profissional. Olhei para a plaquinha com o nome da dona da bata e coloquei-a no bolso antes de sair. A mulher devia ter saído para almoçar, coitada. Fechei a porta atrás de mim e endireitei-me, andando a passo apressado, tal como elas faziam. Arrastei comigo uma das cadeiras de rodas que me apareceu no corredor e voltei para o quarto onde ele estava.

Já estava a ficar cheio de ali estar, detestava estar em hospital e raramente lá entrava porque nós tinhamos os nossos médicos privados que eram pagos para ficar calados, o meu já estava há uns bons anos na família. Vá lá Stella, despacha-te.