Trinity Park

Por mais que eu quisesse, não conseguia tirar os olhos daquela mala. Mordi a parte de dentro da bochecha assim que ele se virou na direcção de Bullet e esforcei-me por manter o meu sorrisinho cínico à medida que ele falava.
- Realmente tens razão, ir para a cama contigo foi de facto um acto irracional.- pisquei-lhe o olho e baixei depois o olhar para Bullet. Sim, ele era o alibi perfeito para eu conseguir o que queria.- ele deve estar com sede.- murmurei.- vens connosco ao café?

Soltei uma gargalhada - não bebas, simples - disse vendo o cão subir pelas minhas pernas - e tecnicamente não fomos para a cama, fomos para a areia - gozei pronto para ir embora - porque é que haveria de ir não tens boca para pedir água para o cão?

Este gajo era tão, mas tão irritante, eu ainda não conseguia perceber como é que estava a aguentar mais de cinco minutos na companhia dele. Revirei os olhos, passando uma mão pela cara e respirei fundo. Tu consegues Zoey.
- Ainda não percebeste que se eu me afastar de ti neste momento o cão vai atrás de ti, pois não? - resmunguei.- acho que encontrou a sua alma gémea.- sorri cínica.

Baixei o olhar para o cachorro voltando depois a olha-la
-Nota-se que gostas muito do teu cão- ironizei tirando a trela do pulso dela - anda buddy - coloquei o cachorro a meu lado levando-o até ao café em que tinha estado.

Cerrei o maxilar assim que o senti tirar-me a trela de Bullet e estava mesmo para o impedir, mas eu tinha de cumprir o meu objectivo.
- Não questiones o meu amor por ele.- disse-lhe de maxilar cerrado.- não foste tu que o tiraste da rua, nem foste tu que trataste dele.- disse apenas. Não me podia exaltar muito ou o meu plano ia por água abaixo. Assim que chegámos ao café, que ficava do outro lado do parque, sentei-me na primeira mesa livre que encontrei.

- Mas podia te-lo feito - respondi indo até dentro do bar. Ouvi logo que não era possível que deixassem entrar o cão, mas não o larguei pedindo um prato e uma garrafa de água tendo que largar tanto o cão como a mala, que pousei em cima do balcão ficando sempre de olho nela. - Toma- mandei apressado - podias ter ido dar água ao rio mas já que o cão é chique deves-me um euro pela garrafa.

Assim que ele passou por mim para entrar no café, eu levantei-me, seguindo-o. Ele não ia largar a mala, ia ter de fazer as coisas de outra forma. Esperei que ele se aproximasse do balcão e logo depois, o meu olhar prendeu-se na mala em cima do mesmo. Tinha de conseguir chegar até ela. Caminhei apressadamente, aproveitando que ele tinha desviado o olhar da mesma para agarrá-la sem que ele desse conta. Dei três passos para trás, ficando o suficientemente afastada dele e apertei a mal nas minhas mãos. Não podia deixar que ele ma conseguisse tirar. Agarrei numa moeda, ciente do que ia fazer e assim que ele se virou para mim, eu sorri.
- E ainda me chamas de ser irracional? - perguntei, começando a chamar Bullet com a mão livre.- toma.- atirei-lhe a moeda.- vais precisar.- pisquei-lhe o olho e sem mais demoras, comecei a correr para fora do café.- anda Bullet! - gritei, ouvindo-o ladrar e começar a correr atrás de mim.

Oh que bela merda! Cerrei o maxilar quando a vi com a minha mala, o mais ironico é que ninguém fazia nada, eu queria, mas se o fizesse matava-a e eu é que me lixava.
-Dá-me essa porcaria - mandei esticando uma mão para que resolvessemos isto a bem e não tivesse que ir atrás dela. Infelizmente ela escolheu o lado dificil. - Prepara-te puta.

Tinha o coração a bombardear-me o peito à medida que corria pelo parque fora. Ainda o tinha conseguido ouvir falar à medida que saía da zona do café, mas nem por um segundo eu olhei para trás. Eu não gostava dele, e no que dependesse de mim, ia fazer-lhe a vida o mais negra possível. Atravessei a travesseira para começar a ir em direcção da minha casa, ouvindo todos os carros apitarem-me por nem sequer ter olhado. Ignorei, continuando a correr e olhei para trás, assegurando-me de que Bullet vinha atrás de mim. Tal como eu, também ele estava atraído pelo que estava dentro daquela mala.

Eu ia matar aquela vadia. Ela ia sofrer tanto nas minhas mãos que ia desejar nunca se ter metido comigo. Mas eu já devia saber, da maneira como a gaja é devia ter ido arrumar a mala, nunca a devia ter deixado.  Não ia atrás dela agora, primeiro ia investigar, saber o que ela fazia, onde vivia e de quem gostava. Se nunca disseram que era parecido a meu pai, então agora iam dizê-lo aquela gaja tirava-me tudo do que eu tinha de bom e deixava-me perdido de raiva.

encerrado

Fomos andando pela cidade, aproveitando o bom tempo que fazia em Los Angeles naquele dia.
Queria começar a conversa, mas não me ocorria nenhum bom tópico.

Agradecia o simples facto de não andarmos até ali de carro. Segurei firmemente o cesto e encarei o chão por uns momentos. - Tens preferência pelo sexo deles? - perguntava apenas por perguntar.

Felizmente foi ela que iniciou a conversa, mas para um tópico no qual se baseavam quase sempre as nossas conversas. Eu queria que ela desanuviasse um pouco do tema da gravidez - Gostava de ter um rapaz, dois seria ainda melhor - respondi.

Até parecia que tinha adivinhado a sua resposta. Mas talvez se devesse ao facto de ser um bocado óbvia. Encolhi os ombros. - Está bem.

Tentei pensei num assunto que não a aborrecesse.
- Onde é que aprendeste a falsificar tão bem? - o elogio estava explicito, para a agradar.

Aquilo era um tema ao qual me sentia bem confortável. - Foi o meu pai que me ensinou.. na altura eu tinha uns quatro anos e o Tom não era rapaz daquilo. - encolhi os ombros. Só sabia que dois anos depois, ele morrera e o meu irmão assumira tudo. - Depois com alguns conhecimentos de rua, tudo foi rolando.

O pai não biológico, pensei. O meu tio nunca teria perdido tempo ensinando raparigas se não em assunto que fossem de sexo. - é admirável a arte que tens para falsificações, se fosses qualquer uma até te pedia para te juntares aos Crips - mas isso nunca iria acontecer pois dali a 4 meses ela ia-se embora.

Eu gostava quando elogiavam o meu trabalho, mas ao mesmo tempo, sentia-me meio que.. hum.. sem jeito. - Se eu fosse qualquer uma não aceitaria nem morta juntar-me aos crips. Toda a gente sabe a fama que tens, dude. - fiz uma careta. - No dia em que assinamos aquele contrato, aprendi a tua assinatura. É mais fácil, do que parece.

- A persuasão que posso efectuar numa mulher faria-a mudar de ideias, independentemente da fama do meu gang ou não - já acontecera. - A maior parte das minhas assinaturas não vale nada. No mundo em que vivemos, Celine, o mundo fora-da-lei, as assinaturas e merdas dessas não contam para nada.

- No meu caso, isso não iria acontecer. - era verdade que ele conseguira coisas de mim, que outra pessoa possivelmente não conseguiria. Mas juntar-me aos crips era impensável. Era leal ao meu irmão. - Se não valem nada, então aquele contrato não vale nada.

- Isso já eu sei desde o primeiro momento. - E nunca fora ideia minha juntá-la aos Crips.
Abanei a cabeça - Aí é que te enganas. Aos olhos da lei americana aquele contrato vale muito. Mas, caso as coisas não corram como planeado, eu farei aquilo que for preciso, quer esteja na lei ou não. Pelos meus filhos, farei tudo.

- Então não digas que a tua assinatura não vale nada. - revirei os olhos. Mas nunca faria nada com aquilo. Era mais um passa-tempo, que outra coisa. - Aquele contrato é-me igual. Não quero ter nada a ver com os teus filhos.

Eu já sabia que ela não queria nada com os bebés, o que era melhor para mim.
- Ainda bem, é o que temos combinado. Já se tens de me aturar mais quatro meses - disse no gozo.

- E achas isso pouco? - Com as dores e o peso da barriga, aturá-lo quatro meses, era como se fosse um ano. Fiz uma careta. - Não morras tu de saudades. - desta vez fui eu que gozei.

- Já foi mais - E o tempo estava a passar com relativa rapidez.
- Serias mais tu a morrer de saudades, Connor.