Quarto da Cel

Relembrando a primeira mensagem :

m,

- Quero despachar isto de uma vez. Hoje não pretendo quebrar como ontem. Espero que seja mais útil - Avisei. Aproximei-me para a beijar - Venos-nos logo - Não precisava que ela me acompanhasse.

- Tudo bem, vemo-nos logo. - suspirei e beijei-o. Quando Enzo se foi embora, deixei-me ficar a brincar com os pequenos. Não parava de pensar nele e em tudo o resto..

Voltar à clínica e esperar por passar a mesma dor não era fácil mas fi-lo. Instalei-me no cadeirão e deixei-me largar a consciência. As memórias eram difusas, estranhas. De mim com uma antiga amiga, Giulia. Mas não parecia certo.

Levei os gémeos até o atelier. Eram raras as vezes que os deixava entrar ali, mas hoje, estava demasiado ansiosa e só aquele sítio para me acalmar. Deixei que os pequenos brincassem com os seus bonecos, enquanto eu arrumava tudo para que tivessem espaço.

Recordei também uma cena em que Celine me tratava com a maior frieza do mundo. Não entendia nada do que se passava. Quis continuar com a hipnose mas a minha hemorregia nasal não parava. O médico parou. Demorei uma hora a recompor-me e a voltar lara casa.

Quanto mais o tempo passava, mais ansiosa eu ficava. Quando Grazi avisou que Enzo chegara, quase que voei do atelier até à sala. Se não fossem os saltos altos, eu com toda a certeza que o tinha feito. - Então? Então? Como foi?

Eu não tolerava ruido. - um segundo - pedi. Voei até à casa de banho mais proxima e vomitei o que tinha no estômago.

Fiquei extremamente preocupada quando ele saiu daquela maneira. Quis segui-lo mas achei melhor esperar na sala. Sentei-me no sofá.

Eu fiquei calada todos aqueles minutos, apenas o observando e tentando ficar menos ansiosa possível. Encarei-o quando se sentou ao meu lado, com um copo de whisky. - O que foi aquilo? - suspirei.

Não olhei directamente para ela - Não foi nada de mais. - Respondi. Encolhi os ombros. Não queria que ela se preocupasse.

- Hum.. - Ele não me convencia com aquele "não é nada de mais", muito pelo contrário, só me preocupava ainda mais. Mas ia deixar aquilo para mais tarde. - E como foi?

Bebi o whisky mais rápido do que queria. Lembrei-me das coisas que recordara e que me estavam a matutar na cabeça - Nada que eu gostasse de ter visto - Comentei. Devia dizer-lhe ou não? - Recordei que estava com outra mulher e que tu estavas mesmo à minha frente e era como se te fosse indiferente.

Sustive a respiração por um longe período de tempo quando ele se referiu à Giuliana. Eu não pensava ter que tocar naquele assunto, pelo menos não tão cedo. Só me restava mentir. - Ah.. isso.. - cocei o couro cabeludo. - Na altura estávamos chateados e tals.. Não foi nada demais.

- Mas foi só isso. - Afastei-me dele e levantei-me. Estava a começar a ficar nervosa e tentava disfarçar isso. - Olha, eu estou cansada. Hoje o dia foi muito puxado, os gémeos não pararam quietos um segundo, mal me consegui concentrar no trabalho. Depois outro dia falamos sobre isso. 

Algo era então. Saber disso só piorava as coisas. E se fosse algo que eu talvez preferisse não saber? - Como queiras... - Não a ia pressionar porque também eu estava esgotado.

- Não penses muito nisso. - aproximei-me dele e estendi-lhe uma mão. Haviam coisas que eu preferia que ele não se lembrasse e no que dependesse de mim, ia continuar assim. - Vens dormir ou vais ficar aqui?

Agarrei a sua mão e pousei um pequeno beijo nas costas da mesma - Acho que vou dormir.... vens também?

Deixei escapar um tímido sorriso e abanei a cabeça. Abracei-o e seguimos para o quarto. Estava-se a tornar um hábito dormirmos juntos, novamente, depois de muito tempo e eu estava a adorar. Tirei a minha roupa, ficando apenas de lingerie e deitei-me na cama, esperando por ele.

Passei algum tempo na casa de banho só para me assegurar que os vómitos e as hemorragias nasais não recomeçavam. Felizmente não. Regressei para o quarto e sorri ao ve-la de lingerie tão bonita. Deitei-me a seu lado - Quão maravilhoso deve ter sido partilhar contigo tantas noites. Quero lembrar-me de todas elas.

- Ai Enzo! - olhei-o embaraçada. Sabia bem ouvir aquilo tudo, mesmo que me deixasse sem jeito. - Tenho a certeza que te vais lembrar e bem, mesmo que isso não aconteça, podemos partilhar outras noites maravilhosas. - ri-me. - Hum.. se eu tivesse o poder de te fazer lembrar das coisas, só iria fazer com que te lembrasses das boas. - passei uma das minhas mãos pelos seus cabelos.

Eu nunca fora tão lamechas na minha vida e nem sequer me lembrava dos últimos anos mas já era assim perto dela. - [b]Lembrar-me das más também é [importante. É por isso que não me contas sobre o que recordei hoje?/b]

- Pode até ser importante, mas eu acho que é meio desnecessário. - fiz uma careta e afastei-me ligeiramente, apenas o suficiente para o encarar melhor. - Já te disse, aquilo que recordaste hoje não foi nada de importante. Tu estavas a usar a miúda para fazer ciúmes e eu estava a fingir que não sentia nada. Apenas isso. N-A-D-A de importante.

O modo de como ela o dizia, desvalorizando o assunto, parecia-me forçado. Havia algo ali.. no entanto eu estava demasiado cansado para discutir - certo... - disse pouco convencido. Aproximei-me e abracei-a. Toquei os seus lábios com os meus.