Quarto do Enzo e da Celine

Enzo dava a entender que aprovava e ainda bem. Ficava contente que assim fosse. - Tu até me podias ensinar algumas coisas. Eu aprendo rápido. - ri-me.

- Sim, claro. Mas não te consigo ensinar muito em poucos dias - Se a não ser que ficássemos ali horas.

- Não faz mal. - Eu estudaria ali, por livros ou até mesmo pelo tablet se fosse preciso. - Mas bem, o que te quero mesmo pedir não é isso. É uma coisa mais séria. - fiz uma careta. - Passei a noite a pensar nisto, por incrível que pareça. E bom.. eu quero que me ajudes a descobrir quem é ou foi o meu pai.

Olhei para ela com os olhos arregalados. Ela queria mesmo isso? Não era nada que nunca me tivesse passado pela cabeça mas... - Se tens a certeza que queres saber isso, então ok, eu ajudo-te.

- Obrigada. - abracei-o com força. A sua ajuda era tão precisa e sabia que ia conseguir descobrir quem era o meu pai. - Eu tenho mesmo a certeza.

Acariciei a sua face e voltei a beijá-la.
- Devíamos investigar primeiro em LA, mas posso começar a procurar já aqui.

Já era um começo, um grande começo. Sorri e abanei a cabeça. - Bem, o meu pai disse-me que o chegaram a matar. Mas não sei se apanharam o homem certo. - encolhi os ombros. Eu sabia pouca coisa sobre aquele assunto. E depois, também nunca tivera curiosidade. - E eu acredito que não apanharam.

Não ai ser fácil, porque violações e conflitos entre gangues acontecia o tempo todo. Ela era caso disso... Retraí-me. - Porquê que achas isso?

- Hum.. não sei. - Eu queria acreditar que ele estava vivo. Queria poder encará-lo e tentar compreender o que lhe levara a violar a minha mãe. - E depois, eu cheguei a ver uma ou duas fotos do homem. Não encontro semelhanças.

- Mas se calhar és apenas parecida com a tua mãe - Mas eu entendia o que ela queria dizer.

Fiz um sorriso torto. Também poderia ser isso, mas queria acreditar que não.
- Se calhar tens razão. - suspirei.

- Depois de aprofundarmos isto, saberemos realmente.
Disse-lhe, num tom optimista.

Até lá só tinha que esperar. - Tudo bem. - sorri. Agora não valia a pena falar daquilo. - Vens comigo tratar dos gémeos, ou tens negócios?!

Aproximei-me. Fiquei demasiado perto para a beijar - vou ajudar-te com os gémeos, gosto de fazer isso, tu sabes.

Os nossos lábios voltaram-se a colar mais umas mil e quinhentas vezes. Não me cansava daquilo. - Eu sei. - Enzo adorava os gémeos, sabia-o. E apesar de estes ainda não terem dado sinal de fome, seguimos para o quarto ao lado.

Segui para o quarto depois de tratar dos gémeos. Enzo tinha negócios a tratar e eu não queria empatá-lo. Pietra, uma das primas de Enzo e a única com quem realmente me dava, seguiu atrás de mim. Ela não sabia o que vestir para o baptizado. Não que isso me importasse, mas ela parecia realmente aflita. Aquela família devia ligar mesmo muito às tradições. E por isso, acabei por lhe oferecer o meu. Ela ficou radiante, foi logo vesti-lo.

Fechei a porta atrás de mim. Talvez fosse melhor esperar até que o seu humor harmoniza-se um bocadinho. - Peço desculpa, por não ter-te dito antes, hum.. sobre o vestido. - mordi o lábio inferior. - Mas tu sabias que eu detestava aquilo. Eu não o quero. E fica bem melhor nas mãos da tua prima.

Eu estava tenso. Nem a olhava direto, mas fitava antes a vista da janela. Estava a pensar - Porquê que não disseste logo? Se não gostavas da porcaria do vestido, não compravas. Que vais levar agora?!

O meu corpo tremeu. Nunca imaginara que aquilo o fosse deixar tão daquela maneira. Aproximei-me dele e toquei-lhe no braço. - Desculpa. - murmurei. - Mas tu estavas tão empenhado a encontrar-me um vestido. Eu estava farta de os experimentar. - no entanto, não respondi à sua pergunta. Era uma bomba explosiva.

Os traços do meu rosto estavam tensos e rigidos.
- Tinhas-me dito. Agora o baptizado é depois de amanhã e não tens vestido. É bom que encontres um.

A sua atitude começava a irritar-me. - Não consegues ser um pouco mais frio e rígido?! - revirei os olhos. Inspirei e expirei algumas vezes, antes de lhe lançar um olhar. - Eu não quero, não vou ao baptizado.

- Não estou a ser frio, estou apenas aborrecido - Era um pouco mais do que isso. Pelo menos até ela voltar a falar. Então aí disparei de fúria - TU. O. QUÊ?

Não era nada assim que ele se apresentava. Voltei a estremecer. O meu corpo encolheu-se. Naquelas alturas, eu sentia-me sempre inferior a ele, como uma presa. - Por favor.. não grites. - Engoli em seco. - Ouve-me, antes de tirares as tuas próprias conclusões, por favor..

Cerrei os meus punhos e o meu olhar, ardente de estupefacção e também desilusão contida, cruzou o seu - Queres que te oiça dizeres que não queres ir ao baptizado dos nossos filhos?

O seu olhar simplesmente fuzilou-me. Senti-me mais pequena do que antes. - Eu não me vou sentir bem, aquilo não é lugar para mim.. - a minha voz quase que sumiu. - Nunca fui a favor do baptizado, apenas o aceitei, por ti, por eles, pelas vossas tradições.. compreende, por favor.