Quarto da Celine

Mas eu não sabia se me aguentava. Senti-lo duro, de baixo do meu corpo, era estranho e ao mesmo tempo, delicioso. Fechei os olhos, assim que me acariciou a cara. - Se calhar é melhor irmos dormir. - murmurei.

- É, precisamos de descansar.
Eu tinha algum sono e estava com um pressentimentos de que ia adormecer depressa.

- É.. - com algum cuidado saí de cima dele e voltei a deitar-me. Abracei-me ao seu corpo e pousei novamente a minha cabeça no seu peito. - Sabes, se não me tivesses feito tantas coisas más, provavelmente namoraria contigo. - ri-me.

Não posso dizer que o que ela disse não me provocou um sorriso. Mas seria impossivel.
- Não há um Enzo bom, Cel. Nunca houve - mordi o lábio - E tenho mais onze anos que tu.

Não entrava na minha cabeça que ele fosse falso até àquele ponto. Queria acreditar que não. Que Enzo era querido e carinhoso quando queria. - E? Continuo a ser maior de idade. - revirei os olhos.

- É, mas tens essa idade e eu tenho a minha. Não tenho idade para namoros. Ou é para ser solteiro, ou é para casar. - Nem eu sequer estava interessado em namoros.

Comecei-me a rir. Talvez tivesse sido um pouco exagerado a minha reacção, não sabia bem.
- Isso tudo vai contra ao que eu quero. - eu não me queria casar, assim como não queria ter filhos. No entanto, apesar de não ter responsabilidade alguma para com os gémeos, eu ia tê-los.

- É, pois vai. Também não fomos feito para ficar juntos - disse aquilo descontraidamente mas algo se apertou no meu coração.

No meu íntimo pensava seriamente, que se ele não me tivesse feito todas aquelas coisas, talvez tivéssemos alguma chance, juntos. - É.. deves ter razão. - murmurei. - Um dia vais encontrar alguém, eu sei disso.

- Não sei se estou interessado em encontrar alguém. Vai ser difícil, depois dos gémeos nascerem. Tem de ser alguém que os aceite, que me aceite - E não haveria muitas mulheres para isso.

No fundo, as suas palavras afectaram-me um pouco. Não sabia porquê mas não imaginava ninguém a cuidar dos gémeos. Engoli em seco. - Se.. se deixares esse teu lado mau de parte.. Existe um bom Enzo aí dentro que eu sei.

- Se esse Enzo só se revela para ti e para minha irmã, e apenas de vez em quando, de que adianta? - Encolhi os ombros. Não queria falar daquilo com ela.

- Adianta que também se poderá revelar quando estiveres com a mulher certa. E com os gémeos e com quem tu quiseres.. - e depois, como pessoa, tornava-o melhor. - E depois, se arranjares alguém, antes de casar, vais ter que namorar.

- Se alguma vez encontrar a mulher certa, atiro-me de cabeça e peço-a em casamento. Não estou para perder mais tempo da minha vida. - Quando os gémeos nascessem, a minha vida ia mudar, eu ia mudar.

- E se ela ainda nem estiver preparada para casar? - revirei os olhos. - Isso de casar deve ser uma coisa tipicamente Italiana. Já ninguém se casa. - ri-me.

- Se for a mulher que amo, estará - eu não estava para esperas, nem para engates, nem nada.
- Nós, italianos, casamos. Não há nada mais importante que a família. O Vincenzo e a Sienna já são as pessoas mais importantes da minha vida - Ter-lhes dado nome fazia-os ainda mais reais.

Já percebera que ele estava realmente decidido a se casar. Não o podia censurar e apesar de até apoiar, sentia um certo desconforto com aquilo tudo. - Eu já reparei que sim.. - ri-me. - São teus filhos, fazes bem em os amar. Pode ser que amoleças um pouco.

Se amolecesse, seria apenas no seio do meu lar, onde manteria os meus filhos protegidos.
- Não amoleço facilmente, sabes.

- Ser frio e ruim o tempo todo, nem sempre é a melhor solução. - suspirei. Ele só afastava as pessoas com isso. Beijei-o uma última vez, antes de me preparar para dormir.

- foi assim comigo a vida toda... e resultou até de conhecer.
Essa era uma verdade.

- até me conheceres.. - claro, ele engravidaram-me, ele queria aqueles filhos. Ele era diferente apenas por isso. - não.. talvez, até me engravidares. - corrigi-o.

- pois, talvez seja isso. antes não arranjei maneira de lidar contigo.
E ainda hoje, havia vezes em que não sabia comportar-me perto dela.

- Podias ter sido educado e não raptar-me, violar-me, violar-me novamente e outra vez, engravidares-me.. - talvez chegasse de falar daquilo. Mas ainda tinha algumas coisas bem presentes na minha mente. Nunca mais confiaria num homem, depois de tudo. E ainda me surpreendia, o porquê de não me afastar agora, de Enzo. - Só estava a tentar dizer que.. podia ter sido diferente.

Afastei-me ligeiramente dela. Celine tinha razão, eu fora um monstro com ela e agora ela estava a fazer-me este grande favor. Eu não prestava, isso já sabia.
- Podia, mas não comigo. Antes de te conhecer, nunca teria sido diferente para outra jovem qualquer que não fosse dos Crips.

Mas naquela altura eu não lhe pedira para ser diferente comigo. Apenas queria que ele não me tivesse violado. Certamente que tantas outras coisas não aconteceriam, se ele não o tivesse feito. - Está bem. - Encolhi os ombros. - O que vale é que depois desta gravidez, tudo acaba.