Rua Secundária

Naquela manhã, aproveitei para ir ter com o meu irmão. Ao que parece, tinha um negócio novo e precisava da minha opinião, para seguir com tal coisa. Assim que virei a esquina, entrei na rua secundária do bairro. Ruas como aquela, eram perigosas, mas, sempre gostara imenso de andar por ali. Sentia-me em casa.. Aliás, aquele bairro era a minha casa.
Quando um pequeno grupo de rapazes falou comigo, simplesmente ignorei. Eram de um gangue inimigo, pude ver isso, pelos símbolos que traziam nos braços e pelas suas roupas. A maioria dos gangues, tinha algo que os identificava entre si e entre os outros. Além do mais, estava na cara, que eram aqueles típicos rapazes novatos, mas com a mania toda.
- Hey, nós estamos a falar contigo, és surda? - ergui o sobreolho e continuei a andar como se nada fosse. Em breve estaria perto da minha zona de conforto. - Miúda, tu não nos ignoras! - vi-os cercar-me e alguns segundos depois, embati com as costas na parede. A sério que tinha que lidar com estes miúdos, a sério?

Desta vez andava sozinho nas ruas, a guiar o meu Escalade. A verdade é que tinha acordado com vontade de me meter em sarilhos. Chegava de estar em casa no comando. Eu também precisava de acção em campo, de vez em quando, para manter a ordem. Saí do Escalade e desviei-me para uma rua secundária. Era imunda e degrada, o que a tornava ainda melhor para mim.
Mais à frente vi que se passava algo. Por momentos fiquei a assistir, curioso por saber o que se passaria a seguir. Porém fartei-me rapidamente daqueles novatos imbecis. Obviamente, não pertenciam aos Crips. Eram demasiado desajeitados.
Dei um passo em frente, deixando que todos me vissem. Um dos rapazes reconheceu-me de imediato e fugiu, avisando os outros dois - É o Frio, vamos embora! - Mesmo assim ficaram dois rapazes. Estúpidos. Olhei para os meus punhos, cobertos de anéis feitos para esmurrar caras de idiotas. Bastou um murro a cada um para que fugissem enquanto podiam. Que pena, estava à espera de mais acção.
Agora que só estava eu e a rapariga no beco, olhei-a - Ora, ora... o que temos nós aqui...

Numa hora estava encurralada por uns imbecis quaisquer, noutra, já estavam todos a fugir. Fiquei ali, encostada à parede, com a minha shotgun na mão, a visualizar aquela cena toda. O rapaz que os estava a despachar, era-me meio que familiar, mas não o consegui ver, dado que estava de costas. Foi quando disseram aquele nome, frio e aí senti um arrepio na espinha. Assim que fiquei sozinha com ele, pude mirá-lo de alto a baixo e revirei os olhos. Apesar de nunca o ter visto pessoalmente, sabia que era ele. Tinha a certeza.
- Uma loira com a pica toda, para explodir com pénis! - sorri ironicamente. Ele que tentasse alguma coisa, que ia ver, o que era bom para a tosse.

Observei-a prolongadamente, sem esconder que o estava a fazer. Era apenas uma rapariguinha com ar de durona. Mesmo assim serviria para qualquer coisa, não? Caminhei até ela com passos determinados. O meu olhar estava fixado no dela e não prometia nada de bom - És assim tão durona para dares cabo daqueles três sozinha? - perguntei num tom de troça. Fui lentamente encurralando-a.

Se estas ruas continuassem a ficar cada vez mais perigosas, iria ter que aceitar a proteção do meu irmão, disso, tinha a certeza.
- Sou durona para isso.. - assim que comecei a ficar extremamente encurralada, cheguei-me perto dele e dei-lhe uma valente joelhada no meio das suas pernas. - E para muito mais. - Empurrei-o. Apesar de não ter tanta força como ele, até que conseguira afastá-lo um pouco. Preparei a minha shotgun, para o caso de a vir a usar. Não tinha medo de o matar, mesmo que ele fosse líder, daquele seu ganguezinho, estúpido. Revirei os olhos. - O teu problema, resolve-se num bar de strip, por isso, dá meia volta e vai-te embora.

Ela achava que era durona mas eu tinha as minhas dúvidas. Sabia reconhecer raparigas duronas quando as via e não era o caso. Por estar tão distraído, ela apanhou-me desprevenido. Apesar de dor, esbocei um sorriso na minha cara. Virei-me para a encarar.
- Um bar de strip? Que ingénua - olhei para a sua shotgun. Dava-me vontade de rir.

Oh, por favor.. eu não tinha que aturar aquele tipo e muito menos os seus comentários. Revirei os olhos. Se não fosse aquela parede, tinha a certeza que me tinha afastado um pouco mais da sua pessoa.
- Sim, está bem.. agora, importas-te de me deixar em paz? - que ser mais irritante. Será que ele não tinha aquelas típicas coisas de líder, para fazer? Pois parecia que não, mas isso também não me interessava. Só queria que ele se fosse embora.

Podia ir-me embora já que a rapariga não tinha nenhum interesse especial aparente para mim. Mas então questões surgirão na minha mente. O que fazia uma rapariga daqueles num sitio assim? Tinha de ter ligações a gangues ou então viera em buscar de produto.
Num movimento rápido, aproximei-me dela e apoderei-me da shotgun, mandando-a para bem longe de nós. Agarrei em ambos os seus pulsos com força, para que ela não fugisse - O que estás a fazer nesta rua?

Aquilo fora tão rápido, que acabei por não conseguir ripostar contra a sua pessoa. Tentei soltar-me, mas ele tinha mais força, como era óbvio.
- Larga-me! - gritei-lhe, nada contente com a sua ação. Odiava quando homens, como aquele, me tocavam. Sentia puro nojo e uma vontade enorme de lhe rebentar a cara. - Não.. tens.. nada.. a ver com isso! - a manga do meu braço direito, acabou por deslizar para baixo e mostrar a pequena tatuagem que tinha no mesmo. MS-13.

MS-13. Já devia estar à espera que ela pertencesse a algo tão reles como os MS-13. - Largo se quiser, miúda - murmurei num tom cortante - Recrutaram-te por pena, foi? - Não estava a ver uma rapariga daquelas a fazer trabalhos de rua.

Optei por nem responder àquele idiota de uma figa. No fundo, talvez até tivesse sido por pena, ou simplesmente por acharem que era um dever deles, cuidar de uma recém nascida. Mas aquilo não importava. Todos me tratavam por igual, todos gostavam de mim. Pelo menos, achava que sim.
- Já te disse que não tens nada a ver com isso. - sorri abertamente, mas por puro ironismo. A dor que sentia nos pulsos, já não me afetava mais.

Encostei-a à parede com força. Aquilo ia, sem dúvida, deixar marcas. Não que me importasse, antes pelo contrário. Gostava de dor, gostava de a provocar nos outros. Ela parecia estar a esconder algo e eu descobrir o quê - Diz-me o teu nome. Já.

Ele achava mesmo, que com um pouco de força e uma voz rígida, me ia assustar e dizer o que quer que fosse? Continuei com o enorme sorriso que tinha na cara. Até o aumentara um pouco.
- Adivinha. - estalei a língua. As única pessoa que sabiam o meu nome, eram as pessoas da minha família e amigos mais próximos. Os outros, tratavam-me por Connor, a irmã preciosa do líder dos MS-13. E era com muito orgulho que tinha aquela tatuagem.

A rapariga conseguia ser inflexível. Uma qualidade que apreciava mas que neste momento me estava a irritar. As minhas mãos passaram dos seus pulsos para os eu pescoço e dalí partiria com mais força, se fosse preciso - Não volto a repetir. - avisei num tom de ameaça.

Fechei os olhos por uns momentos e quando os voltei a abrir, fitei os seus olhos.
- Nem eu.. - murmurei. As minhas mãos delinearam todo o seu tronco. Saquei a navalha que tinha no bolso e espetei-lha na barriga, enterrando-a, profundamente. Aí consegui soltar-me de si e voltei a empurrá-lo. - Celine Connor, mas toda a gente, trata-me por Connor. - pisquei-lhe o olho.

Bom, a rapariga surpreendera-me novamente. E deixara-me furioso. Apesar da dor abdominal, ser esfaqueado não era novo para mim. Cerrei os punhos e ainda a agarra-la pelo pescoço, mandei-a fortemente para o chão. Depois pûs o joelho em cima da sua caixa torácica, prendendo-a ao chão e imobilizando-a - cadela - rosnei furioso e dei-lhe um grande estalo.

Senti-me meio tonta, quando fui atirada ao chão e fechei os olhos com força, mal senti a sua mão na minha cara.
- Filho da mãe.. - percebi que estava numa situação pior que a anterior, mas não foi por isso que desisti de me tentar soltar dele. Tentei tirar o seu joelho de cima de mim. Isso aleijava-me imenso.

Ela podia tentar o que bem quisesse que não ia conseguir chegar a lado nenhum. Pusera-me furioso e isso era sempre mau sinal. Inclinei-me sobre a cara dela, onde estava agora a marca da minha mão - Então, como é o teu nome, cadela? Ou será apenas cadela? - disse-o num tom cerrado - Não vou jogar jogos contigo. Responde à merda da pergunta.

Será que ele não tinha percebido o meu nome, ou simplesmente não acreditara? - Mas tu és surdo ou fazes-te? - semicerrei os olhos e voltei a tentar desviar o seu joelho. Mas nada, era escusado. Ele ia sempre, ser mais forte do que eu. - Vai para a merda!

Com a porcaria da facada tinha-me distraído. Celine. Fora isso que ouvira? Celine Connor. Onde é que eu já ouvira esse nome? Não demorei muito a associá-lo ao líder dos MS-13. Já ouvira falar da irmãzinha do idiota, por uns dos meus espiões. - O teu irmãozinho deixa-te andar sozinha? Que desleixado - gozei num tom de pura malícia. Senti as dores aumentarem no meu abdómen. Tinha de tratar daquilo. Mas ia levar a rapariga comigo. Era um isco que não ia perder por anda deste mundo. Tirei uma faixa de coro e apertei-a forçadamente nos seus pulsos. Depois coloquei uma mordaça na sua boca. - Vens comigo, cadela. Ainda me vais ser útil.

não tinha mesmo visto xD

Não era como se não fosse capaz de me defender. Desde pequena que tivera um treino intensivos e mesmo que não tivesse entrado em muitas brigas, sabia o que valia. Enquanto ele me amordaçava, tentei a todo o custo, levantar-me e sair dali. Mas maldito fosse! Com os pulsos atados, era-me difícil de o fazer. Assim que o ouvi falar, senti novamente, o mesmo arrepio inicial.

eu reparei u.u..
editei mesmo à última da hora.

Ainda a bloquear os seus movimentos com o meu joelho, revistei-a. Acabei por tirar-lhe o telemóvel e atirá-lo contra a parede. Este desfez-se em pedacinhos. Levantei-a, colocando.a à minha frente, A minha mão continuava a segurar os seus pulsos - Se não queres mais surpresas, é bom que não faças mais nada - avisei ao seu ouvido. Ainda não tinha planos para ela mas podia muito bem mudar de ideias e provocar-lhe uma má estadia sob o meu comando. - Anda! - ordenei enquanto nos dirigíamos para o meu Escalade.

Se ele antes me metia nojo, agora isso aumentava ainda mais. Tinha a certeza que quando o meu irmão descobrisse o que ele tinha feito, que o mataria sem dó, nem piedade.
Com o meu corpo, movi-me de imensas maneiras, para me tentar soltar das suas mãos. Agora que estava de pé, podia muito bem conseguir fugir e ir até ao centro do gangue do meu irmão. Mas nem aquilo resultava. Abanei a minha cabeça, recusando-me a fazer tal coisa. Não ia entrar no seu carro.

Apesar de estar ferido no abdómen, ainda me conseguia aguentar e manter-me rijo. Eram anos de prática. Para além disso, ela era uma rapariga magra que não custava manejar. Abri a porta de trás - Entra no carro - Ordenei mais uma vez - Se não cooperares, vais para a bagajeira.