Quarto da Celine

Ela tinha de perguntar aquilo?
- Não era bem bater... tu sabes que para mim há dominância na dor. Às vezes parece que é a única forma de te ter e bom... passei-me por só teres chegado à pouco.

Não sabia se haveria de rir ou chorar. Ele tinha manias estranhas, mas isso devia ser ao facto de ser sádico ou algo do género. - Ham.. Pois.. Mas se me querias fazer isso podias ter-me embebedado. - fiz uma careta.

- Já experimentaste estas coisas sem estares embriagada. - Referia-me a coisas que tínhamos feito no quarto negro. - Não o volto fazer. A não ser que queiras.

- Pois foi. - A minha face corou intensamente. Era verdade e não podia dizer que desgostava daquilo. Sorri por uns momentos. - Está bem. Vais-me castigar sempre que eu fizer algo que não aprecies? - ergui o sobrolho.

Bem queria, pensei. - Não.
Respondi sucintamente, percebendo que não podia fazer isso sem a afastar.

Semicerrei ligeiramente os olhos, tentando perceber se era realmente verdade o que dizia. Abanei a cabeça. Ia confiar nele. - Está bem. Mas nem mesmo se te irritar muito?

- Planeias irritar-me muito? - Perguntei, sem lhe responder. Eu não podia prever o que fazia.

Juntei as mãos aos meus pés. Ficara surpresa com a sua pergunta. Se o iria irritar muito? Era provável. Não sabia exactamente o que o irritava e o episódio de há minutos atrás fora a prova disso. - Talvez..

- Então talvez necessites de uns castigos... mas eu prometo que será bom. Garanto sempre algum prazer - respondi.

Fiz um sorriso torto e passei uma mão pelo meu cabelo. - Está bem. - Não valia a pena repensar nas minhas palavras anteriores.

- Agora... - Aproximei-me e sentei ao seu lado na cama - Sei que estás descontente por ter contratado o Oscar. Trata-o bem. Sei bem que não é a Grazi, mas é quase. Os dois são da mesma família. - Mas nem era aquilo que eu queria dizer - Não vais dormir aqui, pois não?

Pelo menos ele não contratara nenhuma das outras duas empregadas. Não tinha gostado delas, eram novas de mais. - Se são da mesma família, podiam ficar aqui a trabalhar juntos. - Encolhi os ombros. - Era essa a minha ideia, antes de tu entrares..

- Não preciso de dois empregados e sinceramente não estou para ver a Grazi aqui.... talvez um dia, pro agora não a quero aqui - Era um ponto que não ia mudar - Dei-lhe emprego noutra casa. É suficiente por agora. Não fiques chateada com isto.

- A outra casa, não é esta casa! - revirei os olhos. Ele estava a ser estúpido, muito estúpido ao tomar aquela decisão. Grazi era essencial aqui. - Claro, não fico chateada. - sorri cinicamente.

- Mas é uma casa e é um emprego. Por agora é o que ela tem.
Para a fazer mudar de ideias, beijei-a.

- É, o que ela tem.. - Virei a minha cara e afastei-me ligeiramente de si. Cruzei os braços ao peito. Se ele não ia mudar ideias sobre aquele assunto, eu também não.

Abracei-a e fi-la encarar-me.
- Não te afastes de mim, Cel. Não gosto disso.

Era bom sentir novamente os seus braços sobre o meu corpo. Mordi o lábio. Ele não gostava que me afastasse.. era quase música para os meus ouvidos. - Custa assim tanto perdoares a Grazi?

- Custa - disse num tom honesto.
Não tolerava traições.

- Isso é porque tu és casmurro. - dei-lhe uma cotovelada. Ele era muito teimoso e tinha a mania que tudo tinha que estar a seus pés, ao seu gosto. Em certas coisas dava jeito, mas na maioria não. - Casmurro. - voltei a repetir.

- E sou. É algo que me dá jeito ser às vezes.
O que era verdade. Era algo bom para os negócios.

- Sim, mas neste momento não te dá jeito nenhum. Estás numa má posição para ser casmurro. - voltei a cruzar os braços ao peito. Unf..

- Isso é o que tu dizer e não quero falar mais deste assunto. Vens comigo para o meu quarto?
Queria que ela dormisse comigo.

- Entre dormir ou não dormir contigo a Grazi não vai voltar. - ora aí estava a sua má posição. Talvez eu usasse a distância a meu favor. Mas o mais provável era eu sair a perder.

- O que queres dizer?
Perguntei, começando a ficar de mau humor outra vez.