Sala de Estar

Apenas me calei porque queria que ela se acalmasse. Mandei a empregada trazer um chá.

- Eu não quero chá nenhum! Estou farta de chás! - tentei não gritar, mas já estava a ficar chateada. Cruzei os braços ao peito.

O humor ela era insuportável, que nem uma montanha russa. Eu tinha de arranjar paciência mas era difícil - mas o que é que se passa contigo?

- Passa-se que nunca devia ter aceito esta gravidez de merda. - revirei os olhos. Não era óbvio? - Não posso sair à rua sem me sentir cansada, sem que comentem, sem puder ser uma pessoa normal.. - funguei. - Odeio estar presa nesta casa.

Aproximei-me dela aos poucos, lentamente. Até por fim pousar as minhas mãos nos seus ombros, calmamente, e fazê-la fitar os meus olhos azuis - Esta gravidez é uma coisa boa. Tu estás a fazer uma coisa boa.

- Só estou a fazer uma coisa boa par ti. - suspirei. Mas agora, mesmo que quisesse, não havia volta a dar.

- Por mim e por essas duas vidas que carregas. E eu estou-te muitíssimo agradecido - disse, olhando-a. Achava que ela compreendia o quanto isto era importante para mim.

Por ele, por ele.. não lhe respondi de forma rude e mal educada, porque no fundo, sabia que ter um filha, era algo que Enzo queria muito. - Estou com fome. Vai-me fazer aquelas panquecas feias do outro dia.

- Entendido - Esbocei um semi sorriso. Dei meia volta aos calcanhares e fui para a cozinha meter mãos à obra.

Estava um pouco mais animada, mas mesmo assim, continuava a não me sentir bem. Liguei a televisão e esperei que Enzo trouxesse as panquecas.

Eu não demorei muito a fazer as panquecas. Até me divertia. Eram raras as vezes em que cozinhava algo. Voltei depois com um prato cheio delas.

Ajeitei-me no sofá assim que ele voltou com as panquecas. Tinham um óptimo aspecto. - Tu até sabes fazer algo de jeito. - ri-me. Barrei aquela porcaria com imensa nutella e comecei a comer.

- Eu sei fazer muitas coisas com jeito - afirmei, com um sorriso malicioso.
- O teu apetite aumentou muito?

- Nem por isso. - fiz uma careta. Eu achava que a maioria das coisas que ele fazia, não prestavam para nada. Já para não falar, que para mim, Enzo ainda era um cabrão sádico. - Hum.. rum.. imenso!

Decidi ignorar a primeira coisa que ela disse.
- Aproveita, posso fazer mais se quiseres.

- A verdade é que eu não quero comer muito. Não suporto comer. - revirei os olhos. Não suportava ter aquele apetite todo, aqueles desejos.. bah..

- Comer não te faz mal nenhum - Mas se ela era magrinha antes por alguma razão era, pensei.

- Sim, pode não fazer, mas eu não gosto. - encolhi os ombros e dei por terminada as panquecas. Estiquei-me apenas o suficiente para pousar o prato na mesinha da sala.

- Como é que podes não gostar de comer?
Perguntei, quase a rir. A não ser que ela fosse anoréctica, pensei.

- Não gosto.. só o faço para não morrer assim à fome. - fiz uma careta. A única coisa que curtia comer era sem dúvidas, porcarias atrás de porcarias.

Se havia dúvidas de que ela era uma rapariga estranha, essas mesmas dúvidas estavam apagada - certo...

Encolhi os ombros. Já que ele não tinha mais nada para dizer e muito menos eu, liguei a televisão e puxei-o para o pé de mim.

O tempo passava rápido e da mesma maneira. A única excepção na minha vida era conviver com Celine, o que por vezes era fácil e noutras muito difícil - esta maioritariamente. Naquela manhã tinha preparado um pequeno-almoço recheado , com panquecas, crepes, waffers, croissants... um pouco de tudo.

Aqueles dois meses, tinham passado bem rápido. Estava claro que não tinha sido uns meses tipo paraíso, mas aguentava-se. A minha barriga já era bem notável, o meu apetite estava descomunal. Desci as escadas, assim que me vesti e sentei-me no sofá. Com aquela barriga enorme, era mais fácil, cansar-me.

- Bom-dia - disse, assim que a vi entrar. - Tudo bem esta manhã? - perguntei apenas por perguntar, tornara-se uma hábito perguntar-lhe aquilo.