Quarto Negro

Acordei a meio da noite, cansada e assombrada pelos mesmos pensadelos de sempre. Acabei por me levantar e fui à casa de banho.

Acordei sobressaltado com alguma coisa. Ao abrir os olhos reparei logo na falta de Celine. Levantei-me e vi que havia luz no interior da casa de banho. Bati à porta e perguntei - Está tudo bem, Cel?

Abri a porta da casa de banho e abracei-o com força. Eu ainda estava meio afectada pelo pesadelo que tivera. - Não devias estar acordado a estas horas. - murmurei.

Abracei-a, embora não entendesse o que se estava a passar. Só conseguia perceber que ela não estava bem. Depois do abraço, afastei-a um bocadinho de forma a poder encará-la - Não importa. Queres contar-me o que se passa? - Pedi gentilmente.

Não o consegui encará-lo muito bem. Comecei a chorar. - Eu não consigo.. - engoli em seco. - Eu não consigo esquecê-lo em cima de mim, do seu toque, tudo.. Sinto-me sempre suja!

A raiva voltou a reacender-se contra Anthony, aquele homem doentio. - Não és suja, Celine. Não és. Aquele canalha nunca deveria ter posto a mão em cima de ti - Se ele não estivesse já morto, matava-o eu novamente.

Abanei a cabeça. Recusava-me a acreditar nas suas palavras. - Não Enzo. Eu sou suja, eu estou suja.. Ele vai estar sempre no meu corpo.

Segurei-a calmamente e fi-la encarar-me - Não vai. Eu prometo que não vai. Isto vai passar.

Com Enzo passara, mas era diferente. Ele era o pai dos meus filhos, ele era o meu amor. Anthony tinha-me marcado imenso. - E se não passar?

- Passará - Assegurei, acariciando o seu rosto - Tu és uma mulher forte, vais dar a volta a isso. Tu és superior a isto, Cel.

Eu queria acreditar nas suas palavras, mas sempre que fechava os olhos não conseguia parar de pensar em Anthony. Pousei a cabeça no seu peito e apertei-o contra mim. - Vais-te sentir bem quando fizermos amor? Não vais ter nojo de mim?

- Nunca sentiria isso por ti, Celine - fi-la encarar-me - Eu amo-te, percebes? Amo-te da maneira que és com as tuas cicatrizes, interiores e exteriores. Amo-te por ser a mulher forte que conheço, por seres a melhor mãe que os meus filhos podiam ter. Nunca teria nojo de ti, mi amore, nunca.

As suas palavras fizeram-me chorar ainda mais. Pela primeira vez em muito tempo, senti-me segura e interiormente descansada. - Só tu para deixares tudo tão fácil.

Sorri levemente e voltei a abraçá-la.
- Anda, vamos voltar para a cama.

Seguimos de volta para o quarto e deitámos-nos na cama, abraçados um ao outro. - Vou-me mudar para este quarto. - avisei num tom de brincadeira.

- Não sabia que gostavas tanto dele assim - Comentei a rir - Mas se for essa a condição para te mudares de volta para aqui, por mim tudo bem.

Fiz uma careta. Eu gostava daquele quarto, só não podia dizer que tinha boas recordações dele. Fiz uma careta. - Eu não me vou mudar Enzo.. - mas não queria tocar naquele assunto.

Ia convencê-la a mudar-se, só que ia levar o seu tempo. Não me voltei a pronunciar, levei-a para a cama novamente.

Pois bem, o resto da noite passou-se traquila e sem pesadelos.
Dei até preguiça pensar em sair da cama, assim que acordei.

Aquela devia ter sido uma das noites em que dormira melhor, se bem que apreensivo depois da cena de Celine de madrugada. Quando acordei vi-a também acordada - bom dia.

Sorri ainda ensonada e beijei-o. Se não fosse a preguiça, talvez lhe tivesse feito uma partida. - Bom dia. Passou a erecção?.

- Receio bem que não - Respondi, ligeiramente irritado por isso. - Sonhar contigo não ajuda nada.

Comecei-me a rir. - Well.. Não posso fazer nada quanto a isso. - gatinhei para cima dele e sorri. - Mas tu podes fazer uma coisa por mim: panquecas!

- és tão mázinha - acusei de olhos semi-cerrados - vou pensar nisso se me deres um bom beijo.

- Eu estou grávida! - era uma boa maneira para me escapar do beijo. Rebolei sobre a cama.