Ruas

- Admite que eu tenho razão, se não, não como! - cruzei os braços ao peito e empinei o nariz. Os nossos pedidos acabaram por chegar. Eu estava esfomeada, o meu corpo iria dar sinais de ter fome e mesmo que assim não o fosse, obviamente que não ia deixar de comer.

- Que importa isso, realmente?
O que ela estava a fazer era uma infantilidade.

- Não importa, simplesmente quero que me dês razão.
Não custava muito. Peguei no garfo e comecei a comer.

Sorri divertido e acenei, como que em concordância.
O jantar assim decorreu.

O jantar decorreu calmo e da maior tranquilidade possível. Estava tudo delicioso, tinha que admitir e até se passava bem o momento, ali. Não falámos muito, como das outras vezes, mas não pareceu que isso nos incomodasse. Encostei-me à cadeira e fechei os olhos.

Aquelas férias tinham mudado radicalmente a nossa convivência. Esperava que assim se mantivesse quando voltássemos, pois não faltava muito tempo até voltarmos para Los Angeles.

Abri os olhos e encarei a vista à nossa frente. Sorri por uns momentos.
- Quando os gémeos nascerem, vai ser como se nada disto tivesse acontecido?

- Eu não vou esquecer - disse, olhando-a. Se era a isso que ela referia - Não vou negar que isto aconteceu.

As suas palavras não me deviam afectar tanto, emocionalmente. Mas eu sentia-me feliz e não merecia tal felicidade. Tinha que esquecer aquilo, tínhamos que esquecer.. - hum.. acho que devíamos esquecer. Deitar para trás das costas.

O que ela disse desanimou-me. Não o demonstrei, claro.
- Talvez devesse, mas não vai acontecer. Estou a gostar demasiado destes dias para o fazer.

Ele ia-se arrepender daquelas palavras, disso tinha a certeza absoluta. E o mais provável, era que aí, ele nem me olhasse mais na cara. Suspirei. - Se soubesse que me ia apaixonar por ti, nunca teria deixado nada disto acontecer. - peguei no seu copo com o vinho e bebi-o.

O que ela disse mudou tudo por completo. Eu via ali uma uma afirmação?
- Apaixonaste-te por mim?

No que tocava àquelas coisas de sentimentos, não gostava muito de me repetir e/ou falar. Mas também não tinha problemas em admitir. Abanei a cabeça. - Foi isso que ouviste.

Provavelmente não devia ter feito aquilo que fiz: sorrir. Olhei-a com uma certa admiração.

Depois de alguns minutos, tive coragem de olhar para ele, mesmo que não tivesse sido por muito tempo. - What? - encolhi os ombros. Pousei o copo na mesa.

O meu sorriso aumentou. Não ia dizer nada sobre o assunto, não ali - Nada, nada...

- Lá sabes.. - suspirei. O resto do jantar passou-se em silêncio.
Saímos dali e voltámos para casa.

encerrado.