Exterior

Relembrando a primeira mensagem :

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- Eu abandonei-te? Engraçado - Não tinha piada nenhuma, na verdade. Eu tinha procurado sempre por ela.

- Sim, é muito engraçado. - Aquilo fora talvez a gota d'água. Levantei-me e puxei a minha camisola para cima. Queria que ele visse todas as marcas, chupões, arranhões que tinha pelo tronco. - Enquanto andavas a comer a outra, a fingir que me procuravas.. sabes o que aconteceu quando vos tentei contactar pela primeira vez? .. ele obrigou-me a tê-lo dentro de mim!

Tudo mudou quando ela tirou a camisola e vi todas aquelas marcas. Passei a ver vermelho tal era a minha fúria para com qualquer um que tivesse feito aquilo - Eu nunca fingi, Cel. Eu procurei-te até mais não e lamento que não tenha sido suficiente - Caraças, saber que falhara deixava-me possesso. Dei um passo na sua direcção e olhei-a diretamente - eu vou matar o filho da puta que te fez isto.

Eu não precisava das suas palavras, não aguentava sequer ouvi-lo. Culpava-o por tudo o que me tinha acontecido. Queria-o longe de mim. - Não, não vais. Não quero, não é preciso..

- Não é preciso? - as ela ouvia o que dizia? Eu estava tão zangado, precisava de matar e fazer justiça - Ele pôs-te as mãos em cima, Celine! Se achas que vou deixar isso impune...

- Não é preciso. - voltei a repetir. Ele não sabia o que falava. E eu ia sair mais prejudicada ainda, se Enzo fizesse alguma coisa. - Tu também já me puseste as mãos em cima, tu também já abusaste de mim.. só quero esquecer isto tudo.

Era verdade. Como é que me podia esquecer? Por mais que a amasse, por mais que tentasse ar-lhe tudo, ia ser sempre o monstro que a violara. A nossa relação estava manchada desde o inicio, não era?  - Simplesmente não queres fazer nada, então? Comigo vingaste-te e agora não fazes nada? - Acusei.

Dei um passo atrás e afastei-me dele. Não o conseguia encarar agora que ele já sabia o que se tinha passado. Eu sentia uma certa vergonha de mim mesma. Abracei-me ao meu corpo com força. - Eu não quero fazer nada. E tu vais deixar este assunto como está. Não te metas sequer onde não és chamado.

- Onde não sou chamado? - Exclamei irritado -  Onde não sou chamado ?! - Repeti - Achas que quando te disse que te amava estava a gozar? Que não queria dizer que te ia proteger, que ia fazer de tudo para te deixar feliz? Ando a falhar miseravelmente mas isto não deixo passar em branco.

O meu coração acelerou como há muito não fazia. As suas palavras afectavam-me de uma maneira única. No entanto não o demonstrei. - Já não preciso que me ames. Acabou tudo Enzo.. - suspirei. - Não mexas um dedo sobre este assunto. Fica como está e sou eu que decido.

Aquilo não podia ser o fim e ao mesmo tempo era o fim. As palavras dela foram tão fortes como um tiro no meu coração - E antes precisavas que te amasse? - Perguntei, todo eu tenso - Amar não é como um botão que podes ligar e desligares quando quiseres. Quer dizer, para ti parece que é. 

Ele não percebera nada do que eu queria dizer. - Preciso de me afastar de ti e de todas estas coisas que te rodeiam. Os gangues, o poder, dinheiro.. Neste momento, estar contigo deixa-me intoxicada. - e por isso voltava àquela conversa de partilhar a guarda com ele. - Quero viver em paz, com segurança e com os gémeos.

Ela acreditava mesmo conseguir isso? - Queres o impossível. Foste criada entre os MS, tens filhos do lider dos Crips e agora já toda a gente sabe de quem realmente és filha, as tuas origens. Ninguém te vai deixar em paz, não estás em segurança sozinha... - e eu queria-a proteger, apesar de tudo eu queria-a proteger. - És uma criminosa, Celine, quer queiras que não.

Não queria ser egoísta com os meus filhos, ou prejudicar a sua segurança, afinal, mesmo não querendo admitir, Enzo tinha uma certa razão. Engoli em seco. - Eu não sou nenhuma criminosa. - criminoso era ele.. e ver-me daquela maneira magoava-me.

- Cel... mesmo que nunca tivesses cometido um crime, estás rodeada dela, pertences ao crime quer queiras quer não - E as pessoas vê-la-iam como uma criminosa por isso - Há quem não veja o mal em ti - Eu reconheci-a como ela era - Mas a maioria vai dizer que és má. Ponto.

Abanei a cabeça. Recusava-me em aceitar aquilo. Não gostava de ser vista como uma criminosa, mas também não ia deixar que isso me abatesse. - Não me interessa mais o que os outros dizem ou pensam de mim.

- O problema não é esse. Se forem atrás de ti, vais ter de te importar. É isso que te estou a tentar dizer. Que não há maneira nenhuma de teres uma vida normal, os sarilhos vão encontrar-te - Eu tinha tentado dar à minha irmã uma vida normal, fizera tudo ao meu alcance mas não resultara. Com ela seria igual.

- Se não tentar nunca vou saber. - não queria continuar com aquela conversa. Estava cansada de tudo aquilo, tanto a nível emocional como físico. Peguei na minha taça de vinho e saí dali.

Aquela tinha sido das piores conversas. la ia pôr-se em perigo e, mesmo que ela não quisesse nada comigo, eu ia proteger-lhe a retaguarda quer quisesse quer não.

Pela manhã eu já estava em casa mas de péssimo humor. Não me tinha embebedado nem drogado, estava completamente ciente da merda que tinha sido a minha vida desde o rapto (?) de Celine.

Para refrescar as ideias, decidi-me por ir dar um mergulho na piscina. A água estava gelada, o que me fez bem. Não sei quanto tempo ali demorei.

Eu já notara na presença de Enzo em casa. Deixei que os gémeos fossem lá para fora. Eles também precisava do pai. Eu deixei-me estar sentada numa das espreguiçadeiras.

Emergi da água e surpreendi os bebés que estavam perto da piscina. Eles estavam todos sorridentes. Eu adorava quando se punham assim. Saí da piscina e sentei-me com eles na borda. Molhei um bocadinho a cada um.

Deixei que aqueles três se divertissem. Os gémeos precisavam de ambos os pais e por isso nunca pensaria em afastá-los de Enzo ou ver-me afastada deles. Fui buscar dois sumos. Cheguei-me perto dele e estiquei-lhe um dos copos.

Não consegui olá-lha nos olhos. Recebi o copo mas pousei-o. Não tinha sede. Brinquei com os bebés.