Q' Palace

{Uma vez por ano, agrega todos os mafiosos do mundo, num jantar de verdadeiro requinte}

Sabia mais ou menos o que esperar daquele jantar. Ia ter muita tensão e a ideia divertia-me. Não era muitas vezes que estava frente a frente com os meus inimigos, e o facto de não haver chance de os matar, tornava-o um desafio. Desta vez estava um pouco apreensivo por levar Celine, mas ela era o meu trunfo contra Tom. Aliás, contra qualquer um. Iam ver um Enzo novo, um Enzo letal , capaz de matar sem hesitar quem se metesse com as pessoas da minha vida.

O jipe de vidros fumados parou bem em frente ao Q' Palace. Haviam algumas pessoas a entrar, todas super elegantes. Eu reconhecia algumas, de jornais, ou até mesmo pela Internet.
Eu senti um pequeno nervosismo trespassar-me pelo corpo. Não sabia se estava à altura daquela gente toda. Um dos seguranças abriu-me a porta.

Eu saí logo a seguir a Celine e depois indiquei-lhe o meu braço, para que ela o abraçasse - Não estejas nervosa - sussurrei discretamente ao seu ouvido.

Sorri para Enzo e abracei-me ao seu braço. Nós até fazíamos um par jeitoso.
Então inspirei fundo e seguimos para o Q' Palace. O meu coração pulsava rapidamente, as minhas pernas tremiam, mas mesmo assim, tentava a todo o custo, manter um ar calmo e sereno. Pelo menos, não tinha caído naquelas escadas enormes.
As pessoas olharam para nós, surpresas, algumas aterrorizadas. Eu apenas sorri. Até era delicioso, vê-las assim.

Caminhei sempre de queixo erguido e sorriso gélido nos lábios. Aquelas pessoas eram, na sua maioria, inimigas. Gostei da forma de como olhavam para nós, era só inveja.
Seguimos até ao salão onde se ia realizar o jantar.

Por uns momentos tive vontade rir. Algumas caras eram impagáveis. O sexo feminino, principalmente, fuzilava-me com o olhar. E ali, senti-me superior, senti-me especial. Tinha uma das melhores companhias da noite. - Eu até gosto disto. - sussurrei.

- Espera só até aos confrontos do jantar. Vai ser a melhor parte - Sorri divertido, antecipando. Pelo caminho forcei-me a cruzar com algumas das pessoas que detestava. Ainda não vira Tom, nem a minha principal inimiga Nicole, mas havia ali rostos que conhecia por más razões.
- Enzo, cariño, has venido - Era Carmen, uma drugdealer mexicana com quem tinha negócios... e tivera noutras circunstancias.

Eu estava desejosa pelo jantar, até lá, não tínhamos melhor que fazer, se não aproveitar o tempo e ''fraternizar'' com as pessoas. Olhei em redor. Ainda não vira nem o meu irmão, nem Aminah. Não sabia se os queria ver, ou se era preferível se nem aparecessem.
Olhei para a rapariga que se juntara a nós. Se não fossem as férias passadas no México, quando pequena, provavelmente não entenderia nem metade do que dissera.

Tentei despachar Carmen com o meu espanhol quase perfeito. Sabia que ela ia insinuar coisas e não queria estragar o ambiente com Celine.
- Hasta después, Carmenzita - Guiei Celine até à outra ponta da sala.

Ficara intrigada com aquela Carmen. Mas a sua pessoa foi esquecida por mim, rapidamente. Seguimos até à outra ponta da sala. Um dos empregados serviu-nos com dois copos de champanhe. Eu preferia vinho, mas acabei por aceitar.

Aceitei o copo  e passei um olhar predador pela sala. Do outro lado, na entrada, a líder dos Bloods, Nicole acabava de entrar. Cerrei os dentes.

Não percebia o porquê daquele ar tão fechado e frio. Bebi um pouco do champanhe e seguidamente, olhei para onde Enzo olhava.. oh.. - Relaxa.. o pior está para vir. - e neste caso referia-me ao meu irmão.

Eu estava relaxado. Não me podia importar menos. 
- Se te referes ao Tom, até estou cheio com vontade que ele apareça - Ri-me. Para mim Tom não era nada comparado com Nicole, apesar de ter contas a ajustar com ele.

Dei-lhe uma cotovelada e fiz um ar de má. Para ele teria um gostinho enorme se Tom aparecesse. Para mim, nem por isso. O meu irmão ia-se passar quando me visse aqui, ainda para mais, acompanhada por um dos seus inimigos. - Preferia que por uma vez na vida, Aminah não o convencesse a vir.

Ele viria. Tinha a certeza que sim.
Enquanto esse momento não se passava, fui falando com outras pessoas.

Suspirei. Eu não conhecia ninguém. Não pessoalmente. Fui andando por aí, procurando um lugar para me esconder, ou até mesmo, para aliviar a dor e tensão que aqueles sapatos me proporcionavam. As mulheres fixavam-me com águias, outras faziam comentários maldosos, mas ignorei.

Aquela "festa" transbordava a ódio. Para mim não era nada de especial, estava acostumado a estar nestes ambientes. Aliás, até gostava. Dava para mostrar a minha posição, algo que ultimamente tinha sido desacreditado. Sem querer - ou talvez inconscientemente de propósito - acabei pro entrar no circulo de conversas de Nicole.

Segui para a casa de banho. Talvez não tivesse sido boa ideia, porque até ali as mulheres me olhavam de lado. Caramba, quantas gajas aquele italiano comera mesmo? Decidi a continuar não me importar. Retoquei a maquilhagem, apesar de não ser praticamente preciso e depois descalcei-me. Massajei os meus pés. Estavam com alguns calos.
Quando voltei para a sala principal, procurei por Enzo.

Numa discussão subtil, ali estava eu e Nicole. Mais pessoas à volta se juntaram. Acho que estavam à espera de ver quem é que se matava primeiro. Iam ficar desiludidos.

Começou a haver um pequeno aglomerado de pessoas. E eu, curiosa, também me reuni. E lá estava Enzo e Nicole. As pessoas pareciam expectantes para ver uma luta.

Aquilo era uma estupidez. Mas só parei quando vi o irmão de Celine entrar na sala. Um sorriso escarninho passou-me pela cara.

Pensei sinceramente que aquele sorriso fosse para mim, mas era demasiado irónico. Então virei-me e lá estava Tom, a chegar ao centro da sala. Aminah vinha ao lado dele, linda como sempre. Um arrepio percorreu-me a espinha e engoli em seco. Pedi por tudo, para que ele não me visse.

Saí discretamente (se é que isso podia ser) daquele circulo e aproximei-me de Celine. A minha mão passou pelo seu braço, depois pelo colar que ela usava. O meu olhar acabou por se cruzar com o de Tom.

O meu corpo tremeu. Eu senti o olhar de Tom preso em nós. Não queria olhar, queria pensar que não era realidade. Talvez ainda tivesse tempo de fugir a sete pés.
Nem mesmo com Enzo ao meu lado, conseguia ficar tranquila. Todo eu gelei.
Engoli em seco. Ele estava a vir até nós.