Museu

Não podia ficar trancada em casa a chorar por uma coisa que já levava um mês de acontecimento. Tinha sido horrível sim, mas eu tinha sangue frio, mais cedo, ou mais tarde, iria superar aquilo. Pelo menos, esperava que fosse assim. Agora tinha que tratar de negócios. Os meus negócios. Tudo à parte do gangue do meu irmão.
A polícia procurava-me por falsificação de obras de artes e entre tantas outras coisas, por inúmeras caras. O problema é que não tinham provas contra mim, pelo que eram raras as vezes que andavam em cima da minha pessoa.
Hoje iria haver uma exposição de peças de quadros e outras coisas antigas. Valiam milhões e milhões, mas eu apenas tinha uma coisa em mente. Um colar raríssimo, do Egipto. Depois de me vestir, saí de casa e entrei no museu. Fora fácil, falsificar um convite. Afinal, eu era uma das melhores falsificadoras do mundo. Discretamente, caminhei pelos corredores cheios de gente. Um empregado serviu-me uma bebida e atentamente, olhei para todas as vitrinas.

Não era todos os dias que surgia algo do me interesse. Mas naquela noite havia algo que me interessava, e muito. Era altura de voltar pessoalmente ao mundo do crime depois de ter ficado as últimas semanas a controlar as operações em casa.
Desta vez faria as coisas sozinho, à minha maneira. Era o meu tesouro pessoal, a minha colecção de jóias raras. Mantive-me à parte daquela festa, oculto, à espera do momento perfeito para entrar em acção.

Eu parecia ser uma loira que estava mais interessada no álcool, que mais propriamente, no mundo da arte. Mas não era nada disso. Muito pelo contrário.
Tirei o meu terceiro copo de champanhe e assim que visualizei a jóia que eu tanto queria, fiz um sorriso malicioso. Voltei a afastar-me, como quem não queria a coisa. Mirei todos as câmaras, todos alarmes de segurança. Foi então, que Enzo me saltou à vista. Não estava nada à espera, de ver aquele monstro, por ali. Apenas por que estava de bom humor e só por isso, caminhei até ele. Aproveitei que estava de costas, para entrelaçar o meu braço ao seu. - Então, vieste ver a colecção de obras primas, foi?

De todas as pessoas que eu esperava ver, Celine não era uma delas. Para não fazer espalhafato, continuei com a nossa pequena farsa - Sou um homem que apreciar arte que posso dizer. Não pensei que uma cabra como tu tivesse o mesmo gosto - disse, de modo a que apenas ela o ouvisse. Continuei com um sorriso nos lábios.

Fiz um enorme sorriso, para não levantar a mínima atenção. Para mais, não tinha vindo ali para discutir ou para me aborrecer. - Não sabia que os filhos da puta, também tinha bom gosto. - levei o copo com o champanhe à boa e beberiquei um pouco daquele líquido. Champanhe não era a minha bebida preferida, mas era chique e era a única coisa que ali havia. Por isso, tinha que molhar o bico em alguma coisa. - Ou melhor, queda para arte.

- Os filhos da puta são os que têm melhor gosto - retorqui, minimamente importado com o seu insulto. Afastei-a suavemente sem atrair atenções.

Afastei-me e acabei de beber todo o conteúdo que restava naquele copo. Um empregado estava para ali a andar e pousei o copo vazia, na sua bandeja.
- Hum.. e tens alguma peça favorita? - sorri maliciosamente e ergui o sobrolho.

- As minhas peça favoritas envolvem cena virginais - respondi num tom malévolo. - Pena que não haja disso aqui, esta noite.

Tentei suavizar a minha expressão e tentar esquecer, aquelas imagens horríveis, que acabaram por voltar novamente à minha cabeça. - Oh, pensei que preferisses daquelas.. hum.. mais gang bang, entendes? - ele podia-me ter violado, mas não se ficaria a rir. A sua irmã acabara por ter o mesmo caminho e seis vezes pior.

Sorri cinicamente... - Enfim, gostos são gostos. Gosto de ser uma caixinha de surpresas - gozei. - E tu, o que vieste aqui apreciar?

Eu não me queria embebedar, pelo menos, queria estar bem sã, quando fosse para roubar o colar. Mas não resisti em ir buscar outro copo de champanhe. - Um pouco de tudo.. - olhei em redor. - As minhas peças predilectas, estão um pouco mais resguardadas.

- Ora, isso soa a desafio - Mas não queria saber. Fui-me afastando dela. Não precisava de distracções.

- Podes crer que soa. - sorri abertamente. Assim que se afastou, também eu, fiz o mesmo. Iam agora, dar inicio à exposição da tão esperada peça. As luzes apagaram-se e apenas uma ficou acesa. Uma no meio, onde toda a gente podia ver o colar.

Num canto afastado do salão do museu, eu estava com a atenção presa à maravilha egípcia. Oh sim, aquilo tinha mesmo de fazer parte da minha colecção pessoal.

Fixei-me na jóia, que agora estava a ser apresentada. Era mesmo tentadora. Do outro lado, consegui ver Enzo, fascinado. Isso foi o suficiente para ver qual seria então, a sua peça preferia. Sorri e fui por entre as pessoas, até ele. - Tentadora de mais, não? - sussurrei.

E a gaja voltava a rodear-me - Se não tivesses chorado tanto, diria que queres que eu volte a esmagar-te contra o chão e te satisfaça uma vez mais - disse cinicamente. Ela agora não queria distância de mim?

Revirei os olhos. Só de pensar em tê-lo novamente em cima de mim e dentro de mim, dava-me vómitos. - Satisfazer? Oi? - se não estivéssemos num sítio tão importante e rodeado das pessoas, tinha-me rido. - Pois claro, não te sintas importante. - Assim que aquele mini espectáculo acabou, toda a gente começou a bater palmas. Segui a deixa e aproveitei que um dos vips, ali estava e tirei o seu cartão, discretamente.

Ela não valia a perda do meu tempo. Revirei os olhos e ignorei-a. Estava ali para adquirir um artefacto precioso, e não entreter uma cabra.

Depois de o cartão adquirido, aproveitei que o Enzo estava de costas, para uma pequena vingançazinha. Aproveitei o meu copo com o champanhe e despejei-o em cima da sua cabeça. - Sou mesmo distraída. - Fiz um sorriso cínico. As pessoas olharam-nos por uns momentos. Afastei-me daquele monstro e voltei a caminhar pela multidão.

Por momentos fiquei mesmo zangada com a atitude daquela rapariga desprezível. Mas o momento chegaria, pensei, o momento em que por minha causa ela desejaria morrer... e isso aconteceria também, às minhas mãos.
Só que a sua tentativa de me estragar os planos resultou ao contrario. Vendo a minha situação, a encarregada do museu e da exposição ofereceu-se para me ajudar a limpar os danos. Acabámos no escritório dela e não foram precisos mais de cinco minuto para a vergar debaixo de mim.

Entretanto, as jóias foram levadas para a área vip do museu. E só os vips tinham acesso. Não bastou fazer grande coisa. Assim que mostrei o meu convite, fui logo encaminhada para a sala. Estavam lá, apenas umas sete ou oito pessoas, todas bastante apaixonadas e encantadas pela jóia em questão e pela sua colecção. Como sempre, analisei o espaço.. olhei tudo muito detalhadamente e fixei-me nas câmaras e coisas de segurança.

Tinha a encarregada do museu ludibriada por mim. Isso facilitaria-me a situação quando fosse altura de roubar o colar. Voltámos para a festa, que agora se resumia a menos de dez pessoas. Brindei Celine com um sorriso cínico.

Fiz-lhe o mesmo sorriso cínico e revirei os olhos. Aquele monstro não perdia tempo. Mas ele não me ia estragar os planos. Já tinha tudo encaminhado, tudo planeado e como sempre, os erros de falhar eram mínimos. Estivera sempre, longe ou numa situação difícil de as câmaras visualizarem-me. Entretanto, meti-me à conversa com um velho qualquer.

Os minutos seguiram e com ele levavam aquela festa para o fim. Claro que, quando tudo acabasse, todos aqueles Vips iriam embora. Eu ficaria, claro. Afinal de contas, a mulher do museu prometera-me uma visita guiada às jóias.