Escritório

Nem me dignei a esperar que a reunião acabasse, depois do que tinha descoberto, só queria chegar a casa, e foi isso que fiz. Apanhei o primeiro táxi que encontrei livre e só parei quando lá cheguei. Paguei ao homem, saindo do carro e corri para casa, subindo pelo elevador até ao meu andar. Não tinha muito tempo, queria pesquisá-lo, queria descobrir tudo a seu respeito, todos os seus podres. Fechei a porta atrás de mim, de maxilar cerrado e encaminhei-me até ao meu escritório sentando-me na cadeira.
- Agora é que a guerra vai começar, meu menino. - deixei escapar um suspiro mais pesado, apertando os braços da cadeira na minha mão. Se eu já lhe queria fazer a vida negra antes, agora não ia descansar enquanto não o destruísse.

Abri os olhos pouco tempo depois de os ter fechado e acabei mesmo por me levantar. Não conseguia descansar, tinha demasiadas coisas na cabeça, demasiadas imagens que teimavam em não sair. Também não conseguia comer, o nó que tinha no estômago era demasiado grande para me permitir engolir fosse o que fosse, por isso, decidi que ia começar já a procurar o contacto de outros membros do grupo. Boss e Mark eram os únicos que eu conhecia, mas agora que eles tinham...eu precisava de alguém que me ajudasse a descobrir quem o tinha feito, precisava de alguém que me ajudasse a vingar a sua morte. Dirigi-me até ao meu escritório, passando uma mão pelas bochechas depois de me sentar na cadeira e comecei a vasculhar, precisava de o máximo de ajuda possível, não sabia com quem estávamos a lidar, tinha de me proteger também.

Tinha-a espiado uma vez em que tinha conseguido ver o escritório dela. Sorri agarrando na pistola que tinha escolhido e coloquei-me uma posição, estava num ponto em que ela nunca me iria conseguir ver, não ia ser apanhado de certeza. Sorri quando a vi no escritório e apontei para o sítio onde estava uma jarra vazia disparando para lá.

Uma coisa que não faltava no meu escitório era papelada, todo o tipo de registos, incluindo os registos de todas as pessoas que faziam parte dos Blod. Peguei num bloco de papel, pegando também numa caneta e comecei a apontar alguns números que encontrei.
- Ah! - deixei escapar um grito quando de um momento para o outro se fez ouvir o estilhaçar de um vidro que depois percebi ser a minha janela bem como a taça que tinha a poucos metros de mim. Ainda em choque, virei a cara na direcção da mesma, vendo-a em pedaços, e quando voltei a olhar para a janela, vi o formato de uma bala no vidro, o que me fez estremecer. Levantei-me assim que o meu cérebro processou a informação e caminhei até junto da janela, encostando-me à parede para o caso de quem quer que fosse ainda estivesse à espera de disparar contra mim. Contei até dez mentalmente, tentando avaliar se havia perigo ou não e quando finalmente consegui, abri a porta, indo até à varanda. Estava a tremer por todos os lados.- quem está aí? - gritei, tão alto que ecoou por todo o lado.- anda, aparece!

Mordi o lábio quando ouvi um grito, apenas o dela porque estava a usar um silenciador e a arma não fazia barulho, o sol de algo a partir é que podia assustar alguém, mas qualquer pessoa desastrada fazia isso. Sentei-me no chão espreitando por entre umas grades fininhas quando a vi levantar-se e esperei que aparecesse rindo-me baixinho só para mim por ter aparecido à janela, ela só podia ser maluca, podia mesmo agora mata-la, mas não, não o ia fazer, pelo menos não agora. Sorri maliciosamente e disparei-lhe de raspão, partindo-lhe um vidro da janela.

Eu estava a começar a ficar realmente assustada com aquilo, eu tinha aprendido a não ter medo, a superar, mas desta vez, eu não sabia quem é que estava a fazer estas coisas, era alguém que nos odiava, mas quem? Era isso que eu precisava de saber. Cerrei o maxilar, olhando para todos os lados, mas logo todo o meu corpo paralisou quando de repente, uma bala, vinda do nada, me passou ao lado. Soltei um outro grito, sentindo um calafrio percorrer-me o corpo e já só tive tempo de me agachar para não levar com nenhum bocado de vidro partido. Encolhi-me, passando uma mão pelo meu braço agora arranhado e de um momento para o outro já estava lavada em lágrimas, sentada no chão e de costas juntas à parede, estava tudo a acontecer ao mesmo tempo.

Cada vez que olhava para ela via a sua expressão de medo aumentar. Ela estava a morrer de medo e isso comprovou-se quando eu vi a cara que ela fez quando se baixou para se proteger das balas. Cerrei o maxilar e também me escondi atrás da varanda olhando para a arma que tinha na mão. - Não tinhas que ter morto a minha mãe - murmurei sabendo que ela não ouvia. - Ela não teve culpa - cerrei o maxilar com mais força colocando-me de joelhos para disparar mais raivosamente.

O som das balas despertou Bullet visto que ele veio a correr ter comigo, empoleirando-se na janela enquanto ladrava.
- Bullet, não.- gritei-lhe, por entre o choro e quando consegui, tentei levantar-me para o puxar para baixo, não sabia quem estava do outro lado, não sabia o que ia acontecer, por isso, não podia deixar que lhe fizessem mal.- pára! - estava de joelhos, ainda a tentar puxá-lo para baixo quando o som dos tiros se fez ouvir de novo e de um momento para o outro Bullet já estava no chão a ganir com as dores.- não! - gritei, ao vê-lo sangrar e por muito que me quisesse levantar para o ajudar, os tiros não paravam. Soltei um grito desesperado, tapando as mãos ensaguentadas com os ouvidos e fechei os olhos com força, agachando-me junto do meu cão ferido.- pára! - gritei para quem quer que fosse.- por favor, pára!

Continuei a disparar ate não ter balas. Estava mais do que fora de mim.Semicerrei os olhos para tentar ver melhor o que tinha acontecido, ao contrario do que esperava ela estava a pedir para que eu parasse.Só consegui que tinha magoado alguém quando ouvi um ganido. Cerrei o maxilar e abanei a cabeça saindo daquele lugar o mais rápido que consegui. Entrei no carro e ordenei ao meu motorista para que saísse dali e rápido.

Pousei a mão sobre a perna ferida de Bullet, ficando a fazer pressão enquanto esperava que os tiros terminassem e agachei-me sobre o corpo do meu cão, tentando proteger-nos de alguma forma. Eu só queria que aquilo acabasse, eu só queria ajudar Bullet, nem conseguia por a hipótese de o deixar..ele era a única coisa que me restava. Engoli os soluços mal deixei de ouvir aquele barulho ensurdecedor e levantei a cabeça, com o coração quase a saltar-me do peito.
- Aguenta Bullet, aguenta, eu vou ajudar-te.- choraminguei, passando as mãos pelas bochechas e rasguei um bocado da minha camisola, embrulhando-a em volta da sua perna, para tentar estancar o sangue. Rastejei pelo chão até à minha secretária e estiquei-me até ao telemóvel, começando a marcar o número do veterinário. Quando eu descobrisse quem andava a fazer isto, eu ia matar essa pessoa com as minhas próprias mãos.

Quando cheguei a casa fui logo para o meu quarto e deitei-me. Cerrei o maxilar ao descalçar-me e fechei os olhos com força contorcendo-me até as dores acalmarem. Respirei fundo e agarrei-me à almofada ficando de olhos fechados para tentar afastar os pensamentos.

O veterinário não demorou mais do que dez minutos a chegar a minha casa, ele já me conhecia e sinceramente, acho que tinha ficado assustado com o meu tom de voz igualmente aflito. Felizmente tinha chegado a tempo de tratar de Bullet. Como a bala só lhe tinha atingido na pata, mais nenhum zona do seu corpo tinha sido afetada, por isso, daqui para a frente, a única mazela que ele teria seria coxear um pouco. Mesmo assim, quem quer que fosse que lhe tivesse feito isto ia pagar.
- Obrigada doutor.- disse, já à porta e depois de me despedir, fechei-a, encostando-me à mesma. Este dia não podia estar a ser pior nem mais sangrento, eu já não aguentava mais. Deixei escapar um suspiro, passando as mãos pela cara mas mal ouvi o ganir do meu cão, fui logo ter com ele ao meu quarto, onde estava deitado na minha cama, de focinho baixo. Suspirei de novo, acercando-me dele e passei uma mão pela sua cabeça.- já vai passar Bullet, eu prometo que vai passar.- falei num tom baixo e deitei-me junto dele, ficando a fazer-lhe festinhas. Depois de tudo isto, não conseguia dormir, eram demasiadas imagens na minha cabeça.