[Afastado da casa] Casa de jardim

Não sei quanto tempo fiquei inconsciente, mas assim que voltei a abrir os olhos, mesmo com a visão ofuscada, não consegui reconhecer o lugar onde me encontrava. Fechei os olhos por causa da luz e tossi ainda atordoada.

Passei pela casa principal para tomar um banho e ver como estava a minha mãe e depois disso, fui ver como é que estava a mais nova prisioneira. Fechei a porta à chave, escondendo-a algures na minha roupa. Encostei-me à parede com um sorriso e fiquei a olhar para Zoey que estava a acordar aos poucos já com as mãos presas nas algemas que estavam presas à parede.

Assim que fui recuperando os meus sentidos aos poucos, abri os olhos devagar, tinha a cabeça prestes a rebentar. Levantei a cabeça, tentando levantar-me, mas por alguma razão não consegui. Mexi as mãos, sentindo-as presas e só quando olhei para cima é que vi as algemas.
- O que..- olhei para todos os lados e foi quando o vi que tudo fez sentido. Tal como eu, ele também tinha um plano.- o que é que tu pensas que estás a fazer? - gritei.

Ainda sorri mais quando ela começou a gritar. Peguei num banco que estava ao canto daquela divisão e fui para a frente dela, ficando afastado o suficiente para que ela não me conseguisse tocar.
-Estou a matar dois coelhos de uma cajadada só. - respondi-lhe - quero saber do meu dinheiro e quero saber o que sabes.

Eu ia matá-lo, eu ia dar cabo dele com todas as minhas forças e ia ser tudo menos bonito de se ver. Contraí o meu maxilar enquanto o olhava e só não lhe cuspi para cina porque ele estava longe.
- De mim, tu não vais saber nada.- gritei-lhe.- estás a perder o teu tempo.

Dava-me um gozo enorme o que estava a acontecer, não queria saber se corria bem ou mal, vê-la assim já era o suficientemente bom. Ela é que tinha começado, não tinha nada que ter sido cusca e roubado o meu dinheiro.
-É o meu dinheiro, eu quero-o de volta - levantei-me indo até à outra sala onde estavam os meus seguranças. Coloquei umas luvas para não me queimar e agarrei num ferro com a ponta quente. - começa a falar.

Eu não ia falar, não lhe ia dizer uma única coisa que fosse. Mexi os meus braços, tentando soltar-me das algemas, mas elas estavam demasiado apertadas para isso.
- Merda! - gritei exasperada e olhei para ele.- não me interessa, agora que o tenho comigo, não o vais ver nunca mais.- ele virou costas.- nunca mais! - repeti, pensando que ele ia embora, mas rapidamente voltou com um ferro na mão. Eu podia estar preparada para tudo, mas aquilo era demasiado- o que é que vais fazer? - gritei.- eu não te vou dizer nada!

Estampei no meu rosto uma expressão de admiração falsa.
-Não? - perguntei aproximando-me dela - vamos ver se não vais - tirei-lhe um sapato que ela tinha calçado e mandei-o para o colo dela. Voltei a sentar-me no meu banco e estiquei o ferro na direcção do seu pé de modo lento para que ela pensasse.

- Não! - gritei-lhe, para responder à sua pergunta mas ele pareceu não gostar da minha resposta porque se debruçou até me descalçar. Eu não tinha hipóteses, por mais movimentos que fizesse, estava presa. Senti o ar fugir-me dos pulmões quando ele aquele ferro se aproximou mais de mim e tentei recuar e encolher-me.- a única coisa que te vou dizer é que eles vão descobrir onde eu estou...- enfrentei o seu olhar.- e tu não vais sair vivo depois disto, garanto-te.

Fingi um suspiro já com o ferro a milimetros do seu pé. Primeiro seria o seu pé, se ela me irritasse ia ser pior.
-Eu não quero saber - disse-lhe - uma coisa que eu aprendi a não ter, foi pena de Bloods - disse cheio de nojo e sem piedade cravei o ferro no seu pé - Eu quero o meu dinheiro - gritei-lhe.

Depois disto, eu não precisava de plano nenhum, mal conseguisse soltar-me, eu ia matá-lo, sem pensar duas vezes.
- Nós também não temos pena de vocês, a única coisa que temos é nojo.- rugi e foi como se voltasse a perder os sentidos de novo quando o senti encostar o ferro ao meu pé, aquilo era horrível.- ahh! - gritei de dor.- pára! - grunhi, com o suor a escorrer-me pelo rosto, enquanto tentava tirar o pé. Eu podia morrer ali, mas não ia falar.

Cerrei os dentes aproximando o ferro todo da palma do seu pé e continuei a torturar.
-Fala - gritei-lhe - se não falares vais morrer aos poucos e acredita que vai doer - disse tirando-lhe o outro sapato - és nova lá - comentei - porque é que entraste? Eu tenho pena, és um desperdicio.

Soltei um grito sofrido, começando a deixar de sentir o meu pé aos poucos e fechei os olhos para não chorar com as dores.
- Eu não te vou dizer nada! - gritei de novo. Abri os olhos abruptamente quando o senti descalçar-me o outro sapato e abanei a cabeça, tentando encolher o meu corpo.- não tens nada a ver com isso! - rugi.- podes matar-me, eu não te vou dizer nada seu monte de merda! Eles vão dar cabo de ti quando descobrirem!

Saber que aquilo podia correr mal não me importava nem um bocado. Caso nos descobrissem o máximo que me podia acontecer era ser ferido, mas isso tratava-se. Tudo o que eu queria agora era vê-la com dores, agonizada e sem força. O meu pai se soubesse chamava-me de inconsciente, mas nem disso eu queria saber. Estava cego. Era só dinheiro, dizia o meu subconsciente caridoso, mas ela também pertencia aos Bloods, o gangue que não só era nosso inimigo como também tinha morto os meus avós.
-Eu adoro quando me chamas nomes - gozei passando para o outro pé - tu queres que eu passe o ferro por outro sítio que não seja os teus pés? - perguntei rindo-me - Quem falou em matar-te? Não vais morrer, vais ficar feia e incapacitada se não começares a falar.

Agora já não eram só os meus pés, eu agora já não sentia nenhuma parte do meu corpo, aquilo era das piores coisas que eu já tinha sentido.
- Pára! - gritei pela milésima vez, eu não queria morrer, eu não podia morrer sem antes matá-lo. As lágrimas já escorriam pela minha cara por causa das dores, mas nem limpá-las eu conseguia.- eu não tenho nada para te dizer! - bradei.- pára, deixa-me em paz!

Revirei os olhos e mandei o ferro para trás para que o aquecessem ainda mais. Levantei-me do banco e fui até ela levantando-lhe a cara para que me olhasse nos olhos. - Tu começaste isto, tu vais acabar isto - disse entredentes - onde é que está o meu dinheiro? - perguntei apertando-lhe o queixo.

Respirei fundo quando ele finalmente afastou o pé e voltei a tentar soltar as minhas mãos. Gemi quando me agarrou na cara e fiquei a olhar para os seus olhos, com a raiva a ferver-me nas veias.
- Está no caralho que te foda.- gritei-lhe, não pensando duas vezes em mandar-lhe uma cuspidela para a cara.

Fechei os olhos com uma expressão enojada e limpei a cara com a minha camisola depois de a tirar.
-Tu és um bocado nojenta, já alguém te disse? - perguntei desagradado com a sua atitude. - estão a aquecer o ferro neste momento - disse-lhe - desta vez não vai ser nos pés - virei-me para ela - vai ser na cara se não começares a falar.

- E tu és um filho da puta, já alguém te disse? - perguntei num tom irónico, mas logo me calei quando ele disse que estavam a aquecer o ferro. Mordi o meu lábio inferior com força e por muito que eu não quisesse falar, era impossível não ter medo.- está em minha casa.- afastei-o de mim com os pés.- tanta merda por causa de umas notas.

-lgumas pessoas - disse com um encolher de ombros virando-me para o meu capanga, agarrando de novo nas luvas especiais e no ferro. Sorri quando nem foi preciso tentar ameaça-la mais uma vez. - Muito bem - disse como se estivesse a falar para o meu cão - És demasiado nova para entender - queimei-lhe mais uma vez o pé e aproximei-me um pouco - não gosto quando chamam nomes à minha mãe - disse saindo dali.

Revirei os olhos pela forma como ele me tratou e continuei a empurrá-lo para longe de mim pelos pés, mas logo paralisei quando senti de novo o ferro.
- Ahh! - gritei de dor e por muito que lhe quisesse responder, quando ele foi embora, eu deixei-me cair derrotada no colchão. Eu não conseguia acreditar que isto estava a acontecer.

Sentei-me no banco de jardim que existia fora da casa e passei as mãos pelo cabelo. Eu não gostava de quando isto acontecia, muito menos fazer isto a mulheres, mas sempre que me lembrava do que ela era, eu ficava fora de mim.
-O que é que fazemos com ela? - perguntou um dos meus.
-Deixem-na comigo. - levantei-me.

Por muito furiosa que eu estivesse, todo aquele choque e tudo aquilo que aconteceu, tinha-me deixado estafada. Tentei mais uma vez soltar os meus pulsos, mas como sempre não resultou. Soltei um suspiro derrotado e deixei-me cair no colchão, fechando os olhos e adormeci.

Entrei mais uma vez no quarto onde ela estava e cruzei os braços. Agora não sabia o que fazer com ela, o ataque de raiva já me tinha passado ao vê-la com tanta dor. Ela era uma dos bloods eu devia mata-la, nem devia ter esperado tanto, porque se a soltasse ela ia vingar-se. Ela ainda tinha tanto para aprender, era muito impulsiva. Mas se a matasse ia descer ao mesmo nível deles. Não, isto era só o meu subconsciente a falar, eu devia mata-los. Dei-lhe um pontapé sem força para a abanar para que acordasse.