Sala de Estar

Eu não era esquisita, apenas tinha um gosto reservado. Acabei por me rir, com o meu pensamento. Abanei a cabeça. -Lasanha para mim.. Melhor?!

Assenti com um sorriso - Melhor.
Eu ia começando a conhecê-la melhor, aos poucos, mas ainda precisava de muitas dicas.

E como ainda estávamos numa onda de pedidos, aproveitei para fazer um último e definitivo.. - Talvez não seja hoje, nem amanhã mas.. hum.. eu quero uma primeira vez.

- Queres uma primeira vez? - Questionei, de sobrolho franzido.
Ela estava a referir-se àquilo que eu pensava?

Não era preciso pensar muito para perceber aquilo que eu queria. Abanei a cabeça. - Sim.. Eu nunca tive uma. - e depois, eu necessitava que fosse especial. Não uma mera foda.

E como raios ia eu poder dar-lhe algo assim?
- Eu...hum, bem... - Cocei o couro cabeludo. Tinha-lhe dado a pior primeira vez que uma mulher podia ter.  - Cel. Eu vou fazer tudo ao meu alcance. 

Sorri abertamente. Eu sabia que sim e ia confiar nele. Não valia a pena pensar no passado. Agora, queria apenas viver o presente e construir um futuro a seu lado.
Andávamos todos ocupados. Era o segundo Natal que passávamos juntos e o primeiro dos gémeos, tinha de ser especial. Entretanto dera a minha casa a Geo e à sua mulher. Precisava dele junto de mim, como amigo e como guarda costas, aquela zona era bem segura.
Tinha acordado cedo para embrulhar presentes. Não tivera a chance de o fazer no ano passado, mas gostava e era quase como se fosse uma tradiçãozinha minha.

Acordei com a cama fria. Era o que acontecia sempre que Celine estava fora dela. Nunca ficava especialmente de bom humor. Fui encontrá-la na sala em volta de papel de embrulho - querida, o que é que estás a fazer a pé a estas horas? - perguntei enquanto esfregava os olhos.

- Bom dia para ti também! - fiz uma careta. - Estou a embrulhar presentes. Não tenho sono e acordei com uma energia para dar e vender. - dispensara todos os empregados para passarem o natal em família. Só estávamos nós em casa.

Para mim ainda era demasiado cedo para ser bom dia.
Por isso nao compreendia de todo como e que ela podia estar ali acordada e com um ar tao vibrante - Alguem podia ter embrulhado esses presentes ontem, antes de os dispensares a todos - comentei. Iamos ter um Natal diferente, o nosso primeiro verdadeiramente em familia.

- Eu não preciso de empregados para embrulhar presentes. Além do mais, eu gosto.. - revirei os olhos. Ele estava a começar a deixar-me de mau humor. - Já que não estás aí a fazer nada, faz-me qualquer coisa. Estou cheia de fome.

Celine era assim, tinha as suas ideias e nada a demovia. Não ia ser eu a falar mais, se não já sabia no que ia dar. Quando Celine estava toda hormonal por causa da gravidez, era melhor nem comentar.
- Algum pedido em especial?

- Nop.. Qualquer coisa. - Encolhi os ombros. Tudo o que ele fazia ficava sempre divinal. Que ficasse à sua mercê. - Mas também quero um beijo!

- Talvez pense nisso depois - Disse, referindo.me ao beijo. 
Saí da sala para a cozinha ainda a rir-me.

Eu não via piada nenhuma naquilo. Só me deixava frustrada. Levantei-me e segui atrás dele. - Não, não precisas de pensar. É só dar e pronto.

Durante aquele tempo já tinha embrulhado todos os presentes e tinha sido um belo trabalho. Enzo apareceu mesmo na hora h com a comida. Estava esfomeada. - Estive a pensar e quero voltar à Itália.

Pousei o tabuleiro em cima da pequena mesa. Olhei para ela, algo curioso - Porquê que queres voltar lá? - Tinha sido um horror da última vez que lá estiveramos.

- Porque eu quero ver o papa! - comecei-me a rir. Não era exactamente por isso. - O tempo em que estivemos lá não deu muito para conhecer tudo o que eu queria e tu sabes que sempre quis conhecer aquilo. - mas também não era por isso. - E bem.. hum.. Podíamos-nos casar lá. - estalei a língua. - [b]Quer dizer, nós já estamos casados e.. hum.. nem é assim tão mau quanto eu imaginava. [b]- eu nunca mais largara a aliança depois do aniversário dos gémeos.

Perante tudo aquilo que podia eu dizer? Nunca mais tinha falado com ela acerca do casamento com medo que ela se revoltasse novamente com a ideia. Saber que ela queria, de facto, estar casada comigo era uma alegria. Mas casarmos-nos em Italia? - nao me agrada voltar la. Da ultima vez correu tudo mal.

Fiz uma cara rabugenta. Não aceitava um não como resposta. - Mas já não vai acontecer mais nada. E eu não me quero casar aqui.

Nem eu ia deixar que acontecesse mais nada. - Nada do que eu possa dizer te vai fazer mudar de ideias, pois não? - Claro que não, eu já a conhecia - Itália, seja. Talvez não em Roma..? - Porque lá fora o epicentro de tudo o que de errado acontecera. - Veneza. Florença...

Ele sabia perfeitamente a resposta à primeira pergunta. Não ia mudar de ideias. Encolhi os ombros. - Não e não.. Roma. - Cruzei os braços ao peito. - Bom, está bem, Veneza.

Ao menos naquilo conseguira que ela mudasse de ideias - Veneza, então. Fui lá poucas vezes, mas é perfeito para o nosso casamento - Foi então que me aproximei de Cel e abracei - Nem me deixaste fazer-te um pedido em condições. Se bem que já estamos casados. Só falta a cerimónia.

Aproveitei aquilo para exercer um pouco de força e ficar por cima dele. - Ainda vais a tempo. - ri-me. -Esperamos o bebé nascer ou..?

Ri-me quando ela se pôs em cima de mim. Fiquei pensativo por momentos - Depois de ele nascer. Não quero que te esforces enquanto estás grávida. Dizem que planear um casamento dá muito stress às noivas - Pisquei-lhe o olho.