Varanda

- Obrigado. - sorri.  Aquilo estava tudo muito bonito, nem sabia o que dizer ao certo. Sentei-me à mesa..  - Obrigado pelas flores, adorei-as.

Antes de me sentir, servi-nos a ambos um vinho especial italiano. Não tinha álcool e era bastante saboroso. escolhera-o a pensar em Celine - Ainda bem, estive indeciso se as devia mandar ou não.  - Sentei-me então. Tinha mandado Grazi preparar um prato que Celine gostasse. Ela veio servir-nos.

Era impossível parar de sorrir. Beberiquei um pouco do vinho. Delicioso. Doce. Uma qualidade magnífica. - Alegrou-me o dia. - admiti. Por mim ele podia voltar a repetir quantas vezes quisesse. Fomos servidos e deixados a sós.

A comida estava muito boa, como seria de esperar. Fomos falando durante o jantar. O beijo da noite anterior nunca veio à baila, se calhar era pelo melhor - Estive a pensar em algumas coisas. Acho que precisamos de melhorar o sistema de guarda das crianças. 

Conversámos a noite toda. Havia um ambiente fluído e divertido entre nós. Como há muito não havia.. - Concordo contigo. O facto de descobrirem que agora estamos casados agravou o perigo contra os gémeos.

- Exacto. Mas nem era tanto isso... - Aproximei-me - Não há a necessidade de estarem sempre a saltitar de casa em casa. Ainda para mais vem aí outro bebé e não é este modo de vida que quero que os nossos filhos tenham. 

Eu estava a perceber perfeitamente onde ele queria chegar. Mantive-me distante. - Pois, mas tu tens a tua casa, eu tenho a minha, eles vão ter que se habituar a saltitar.

- Pelo menos até terem idade para focarem onde quiserem. Acho que quando eles perceberem, devemos dar-lhes essa liberdade. Tanto podem dormir uma noite aqui, como outra na tua - mas isso só seria dali a alguns anos. Apanhei a sua mão e coloquei a minha sobre a sua - Mas não vamos poder fazer isto do costume com o bebé. Eu não quero ficar afastado nos primeiros meses de vida. 

Quando os gémeos tivessem idade e cabeça suficiente para perceber, aí eu dar-lhes-ia toda a liberdade de escolha. Afastei a minha mão da sua. - E não vais. Mas eu não vou voltar para aqui.

Suspirei - Está bem. Espero que mantenhas essa tua palavra - Era melhor mudar de assunto antes que o tema congelasse o ambiente - Tenho uma surpresa.

- Eu sou mulher de uma palavra só.. - murmurei. E se lhe dizia que ele não ia ficar afastado, era porque não ia mesmo. Tentei esquecer o assunto. - Uma surpresa? Hum.. Qual?

- Espera só para ver - Levantei-me e desapareci por alguns minutos. Quando voltei trazia uma bandeja com duas taças de gelado - É o gelado que tanto adoraste em Roma. Mandei.o vir especialmente para ti.

Fiquei de boca aberta. De tantas surpresas que ele me podia fazer, nunca imaginaria uma coisa destas. - O gelado de Roma. - sorri. Aquilo fez-me lembrar de bons momentos passados..

Tina sido uma excelente noite, aquela em Roma.
Depois de dar a primeira colherada, eu dei  a minha. O gelado era mesmo bom.
- Continua excelente.

O gelado estava delicioso. Era uma verdadeira obra prima.
Tínhamos passado bons momentos em Roma, mas também tinha sido ali que tudo se estragara. - Isto tudo.. O jantar, o ambiente e a conversa, está perfeito mas.. - suspirei. - Eu não quero reviver o passado.

Ela tinha razão - Nem eu.
Voltei a buscar a sua mão - Quero focar-me no futuro. Contigo.

Sustive a respiração por alguns minutos. Desta vez nao separei as nossas maos. - Eu ainda nao sei ao certo o que quero. Nao sei se consigo..

- Não te estou a pressionar. Quero apenas deixar bem claro que não vou desistir de ti, não vou desistir de nós - Disse olhando-a seriamente.

Eu nao sabia o que dizer perante as suas palavras. Terminei o meu gelado em poucas colheradas. - Aconteceram imensas coisas. Talvez seja melhor deixar como está.

- Acreditas mesmo  nisso? - Perguntei, olhando-a nos olhos. - A vida muda. As pessoas também. Dá-me uma segunda oportunidade, Cel.

Engoli em seco. Eu ja nem sabia ao certo no que acreditar.
- Eu nao deixei de te amar. Mas ainda estou magoada..

Suspirei. Eu sabia daquilo.
- Eu mudei, Cel.  Podemos fazer isto resultar. Não só pelos gémeos e pelo bebé, mas por nós também. 

- Ambos mudámos. - relembrei-lhe. Já não eramos propriamente os mesmos de há dois anos atrás. Mas em parte, continuávamos iguais. - Primeiro eu quero esclarecer tudo e para isso vamos ter que voltar à mesma conversa de sempre.

Iria sempre dar aquela conversa. Era o nosso grande obstaculo e eu queria ultrapassa-lo - temos que encerrar essa conversa. Que seja hoje.

Aquela conversa tinha imensas pontas soltas por onde pegar. Encostei-me a cadeira e bebi o resto do vinho, num so trago. - Tu dormiste com ela.. Quero saber porquê...