[rés do chão] Sala de jantar

Revirei os olhos quando ele deu a entender que de uma forma ou outra eu ia obedecer-lhe e logo a seguir a me ter levantado, dei-lhe um pequeno encontrão.
- Até parece.- resmunguei, seguindo-a até dentro de sua casa e olhei em volta.- o que vai ser o jantar, sabes? - perguntei.- devo confessar que já comia qualquer coisinha.- ri-me.

-Batatas fritas - respondi, só as batatas fritas é que importavam para mim - e o resto é um bife e podes pedir um ovo se quiseres - lambi os lábios com uma expressão extremamente gulosa e endireitei-me na cadeira mal senti o cheiro à comida que tinha acabado de dizer.

Abri ligeiramente demais os olhos quando a sua primeira resposta foi batatas fritas e soltei uma leve gargalhada, abanando a cabeça de forma afirmativa.
- Já estou a ver que elas te mimam com tudo o que queres.- ri-me.- depois não digas que ficaste gordo.- brinquei, entrando junto de Tyler na sala de jantar. Ocupei o lugar ao seu lado, deliciando-me logo com o cheirinho que emanava da cozinha e esperei que nos viessem servir.

-Elas não me mimam, elas fazem o que eu quero - encolhi os ombros - odeiam-me, são capaz ainda de envenenar a comida. - já estava tão habituado que nem me diferença fazia. Agarrei numa bola anti-stress que estava na mesa ao meu lado e atirei-a à parede consecutivas vezes.

Fiquei a olhar para Tyler enquanto ele falava e levantei ambas as sobrancelhas com o que disse.
- Porque é que dizes que elas te odeiam? - perguntei realmente intrigada.- não me parece que te odeiem.- respondi, dirigindo um pequeno sorriso a uma das empregadas quando entrou na sala para nos servir.

Ri-me da pergunta dela lembrando do que tinha feito a todas.
-Quando era pequeno, era um bocado traquina apesar de ser a pessoa mais normal nesta casa - encolhi os ombros - e uma vez peguei numa panela de água quente e mandei-as a duas empregadas. As mais novas sabem disso e têm medo, principalmente por causa do que sou. - olhei para a empregada que nos começou a servir.

Afastei-me ligeiramente para o lado para que a empregada nos pudesse servir e olhei por cima do braço da mesma para Tyler, ficando a ouvi-lo contar-me o que tinha feito. Arregalei os olhos, tentando imaginá-lo todo pequenino e refilão, ainda mais do que já era, e acabei por sorrir.
- Elas ficaram muito mal? - perguntei baixinho, tentando não supor que sim. Olhei para a empregada que nos servia quando vi Ty fazer o mesmo, mas encolhi os ombros.- elas não deviam ter, tu és bom, em todos os sentidos, é verdade.- ri-me.- mas não metes medo.- afirmei.- a menos que estejas todo possuído.

-Tiveram que se ir tratar, nada de especial, mas isso foi o pior, ainda houve mais coisas - as partidas que lhes pregava e etc. Depois de ter crescido tinha deixado de fazer essas palermices para fazer umas piores e dava para ver pela forma que me olhavam que não gostavam - Oh sim, muito bom - ri-me agarrando nas batatas fritas com as mãos.

Só de ouvi-lo falar quase que conseguia imaginar as coisas que ele fazia e sinceramente, conseguia ter pena das empregadas.
- Eu acho que é melhor nem pensarmos nisso.- ri-me, abanando a cabeça.- já estou mesmo a ver que tipo de peça eras.- cortei um bocado de carne, levando-a à boca.- não me contradigas.- resmunguei quando o fez.

Ri-me quando pareceu concordar com o que lhe disse. Enfiei a comida toda na boca e encostei-me à cadeira comendo durante um bocado em silêncio.
-Contradigo sim, aposto que estás só a pensar o melhor da malandrice - ri-me. Eu não era assim tão mau quando era miúdo, só gostava de chamar à atenção.

Levei uma batata à boca toda deliciada e peguei no meu copo com sumo ao mesmo tempo que ouvi Ty falar. Ri-me, limpando a boca ao guardanapo e depois olhei para ele.
- Também estou a falar disso.- sorri malandreca.- mas não é só.- encolhi os ombros.- aposto que fazias o que fazias para chamar à atenção, como todas as crianças.

Ri-me terminando de comer e desloquei o prato mais para o lado, para que todos percebessem que tinha acabado, apesar de só estar ali uma enfermeira a um canto entretida com as unhas e Stella.
-Exceto que as outras crianças não faziam coisas tão más.

Terminei de comer logo a seguir a Tyler e pousei os meus talheres sobre o prato, afastando-o também mais para ao fundo da mesa.
- Isso já não interessa.- disse.- de qualquer das formas, já és crescido e elas não deviam ter medo.- encolhi os ombros, esticando-me para lhe beijar a bochecha.- obrigada pelo jantar Ty.

Soltei uma gargalhada bem alta.
-Precisamente agora é que devem ter medo - disse com um sorriso e depois levantei-me com uma careta agarrando-me à cadeira. - Não tens que agradecer, vou chamar o Greg para te levar a casa.

Limitei-me apenas a revirar-lhe os olhos quando se riu e me contradisse, mais uma vez e levantei-me ao mesmo tempo que ele, ficando atenta, para o caso de ele precisar de ajuda.
- Está bem.- disse.- tens a certeza que ficas bem?

Não ficava bem há um mês, mas ficava apenas dentro dos possíveis.
-Eu fico bem - fui ter com ela e agarrei-lhe no braço carinhosamente. Escondi-me ao chegar à entrada e chamei Greg com um assobia vendo-o entrar. - Leva-a a casa e trata dela como se fosse tua filha!

Fixei o meu olhar na sua cara, ficando atenta ao mínimo sinal e quando se veio encostar a mim, encostei-me também ao seu braço. Fiquei assim até ao seu motorista chegar, dirigindo-lhe um sorriso amigável depois.
- Não era preciso nada disto.- disse novamente para Tyler.- mas eu prometo-lhe que não vai ter de se incomodar muito.- falei agora para o motorista.- eu vivo aqui perto.

Encolhi os ombros para ela.
-Esteja descansada menina - disse o bruta montes bem educado do meu motorista. - Vamos, por aqui - virei para Stella e beijei-lhe a testa.
-Eu prometo que desta vez nao vais ter que me salvar.

A julgar pelo tamanho do homem, a forma como me falou nada condizia com a sua aparência, era demasiado amável para todo aquele corpanzil. Sorri-lhe, assentindo, mas antes de o seguir, virei-me para Tyler, tal como ele se virou para mim.
- Espero bem que não.- disse.- não é que me importe de te salvar.- sorri.- mas é sinal que desta vez correu bem.- cheguei-me mais para ao pé dele e dei-lhe um pequeno beijo no queixo.- dá notícias, ouviste? - olhei para os seus olhos.- não me faças morrer de preocupação.

Beijei-lhe a testa e rodeei o seu corpo com os meus braços, por pouco tempo, eu não era um homem de dar abraços ou carícias, ou melhor, já tinha sido. Greg continuava à espera e eu não o fiz perder mais tempo, até porque tinha que ir descansar.
-Vai correr tudo bem, tenho um bom plano - sorri afastando-me uns passos com uma careta de dor.

Sorri quando os seus lábios foram parar à minha testa e aproveitei aquele bocadinho, por saber que não ia acontecer muitas vezes.
- Espero bem que sim.- disse depois de ele falar e deixei que se afastasse, deixando escapar um leve suspiro.- cuida-te, está bem? - pedi e depois virei-me para o motorista.- podemos ir.

Sorri-lhe uma última vez e fechei a porta antes que alguém me visse e fui-me sentar na cadeira da sala de jantar com um gemido de dor. Encostei a cabeça à porta descalçando os chinelos que tinha calçados e apesar de não querer mostrar parte fraca foi impossível não soltar vários gritos, era como ter pregos espetados nos pés e andar com eles. As empregadas vieram ter comigo a correr e eu levantei a cabeça, nem foi preciso dizer mais nada, porque elas foram logo buscar a morfina.